The Project Gutenberg eBook of Carta de hum cidadam de Genova a hum seu correspondente em Londres This ebook is for the use of anyone anywhere in the United States and most other parts of the world at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this ebook or online at www.gutenberg.org. If you are not located in the United States, you will have to check the laws of the country where you are located before using this eBook. Title: Carta de hum cidadam de Genova a hum seu correspondente em Londres Author: Anonymous Release date: June 7, 2006 [eBook #18528] Language: Portuguese Credits: Produced by Rita Farinha and the Online Distributed Proofreading Team at http://www.pgdp.net (This file was produced from images generously made available by National Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).) *** START OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK CARTA DE HUM CIDADAM DE GENOVA A HUM SEU CORRESPONDENTE EM LONDRES *** Produced by Rita Farinha and the Online Distributed Proofreading Team at http://www.pgdp.net (This file was produced from images generously made available by National Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).) Carta de hum cidadam de Genova a hum seu correspondente em Londres. Entre os fataés eventos desta presente guerra, entendo serà de V.m. sem duvida havido por digno de maior ponderaçaõ, o que aconteceo na Cidade de Genova, no dia dez do corrente; eu, que com horror vi o principio, e o fim delle, faltaria aos empenhos da nossa boa amizade se deixasse de participalo a V.m. com individuarlhe as cauzas de que se originou, e narrarlhe sinceramente os factos mais essenciaes de que se compoz. Jà constaràõ a V.m. os artigos do dia 6. de Setembro, intimados a esta Serenissima Republica pelo Comandante do Exercito Austriaco, e ainda que ella se achasse nessa occasiaõ constrangida a submeterse a quaesquer Leys, ditadas com a superiorïdade das forças, com tudo os seus Povos as sofriaõ de mào animo naõ só por conhecerem quam graves, e indecorosas fossem para o Governo, e para toda a naçaõ, quanto mais por as crerem totalmente alheyas das maximas, sempre grandes, e generosas de S. Magestade Imperatriz Rainha, contra a qual a dita Republica nunca teve guerra. Aumentou-se extremamente o commum sentimento, quando em 8. de Setembro foraõ intimadas do General Comissario Conde de Chotek, as exorbitantes contribuições de nove milhões de cruzados: o ferro, o fogo, e o sacco, que irreparavelmente ameaçava em caso de repulsa, encheo tanto de ira o Povo como de terror, considerando que as vidas, as fazendas, e a liberdade de cada qual naõ dependia jà mais, que de petitorios inexecutaveis, e do dispotico procedimento dos exactores, em que se naõ descubria moderaçaõ alguma. Pagos os primeiros tres milhões de cruzados, e outros cento e cincoenta mil de refresco ao Exercito, todos no termo de cinco dias; renovaraõ-se outra vez bem de pressa ao Governo as mesmas insistencias, e ameaços por outros tres milhões, que foy precizo logo pagar; nem serà defficil o conjecturar quanto internamente se enfurecesse o Povo, vendo publicamente transferir para o quartel General somas tam relevantes. A natural impossibilidade de as achar em outra parte, e o forçoso objecto de remir a Cidade do horror das execuções militares, a cada instante ameaçadas, obrigou este Serenissimo Publico ao extremo expediente de pôr mão no sagrado deposito da Caza de S. Giorge, a donde se conserva com integerrima fé o dinheiro, assim dos proprios nacionaes, como dos estranhos: por esta nunca ouvida resoluçaõ, todos os Cidadões, e com especialidade os homens de negocio, e os muitissimos, que vivem delle, ficáram extremamente sentidos, ou jà pelo espolio gravissimo de tantas familias, ou já pelo pejo de ver violada aquella Caza, que se respeitava como principal alicerse da Republica, e seus subditos, ou tambem pela irreparavel ruina do comercio, que se sumergia totalmente sem esperança de nunca mais restituir-se ao seu antigo credito, pela falta dos thesouros, extorquidos da dita Caza. Ficarà V.m. admirado, que àlem destas contribuiçoens, sem exemplo, chegasse o Senhor Conde de Chotek (sempre com os mesmos ameaços) a pedir outro milhaõ, e duzentos mil cruzados em dinheiro de contado, por conta dos quarteis de inverno, sem incluir nesta soma, o que em especie pedia para mais cõmoda subsistencia dos ditos quarteis; porem ainda mais estranharà V.m. que nunca podesse a Republica conseguir os passaportes, que pedio para os quatro Patricios, que destinou para na Corte de Vienna implorarem hum justo alivio a tantas oppressões, mas sim que fosse por todos os modos embaraçada a via, por onde na dita Corte se podesse esperar os effeitos daquella generosa clemencia, que sem duvida teriaõ experimentado estes Povos, quando Sua Magestade Emperatriz Rainha, fosse informada da minima parte dos seus infortunios. Chegaraõ com tudo a Genova, por varias partes, avizos certos, que Sua Magestade Emperatriz Rainha comovida, naõ tanto dos impulsos do seu rectissimo animo, quanto dos bons officios de algumas Cortes, e particularmente da de Roma, tinha prometido a Mons. Nuncio, que rezide em Vienna, que diminuiria à Republica a terceira parte das contribuições, em que foy multada; extremo porèm foi o sentimento destes Povos, quando entenderaõ, que as representaçoens pervenidas em Vienna destes Senhores Generaes, fizeraõ revogar tal indulto. Com effeito, em lugar da dita diminuiçaõ, ouvio-se pelo contrario no dia 30. de Novembro, intimar absolutamente o pagamento da dita terceira parte, e aumentar eximiamente as primeiras pretenções dos quarteis de Inverno, por[~q] foraõ taixados em outros tres milhões de cruzados, com outras relevantes somas; de maneira, que àlem de seis milhões, e cento e cincoenta mil cruzados jà pagos em dinheiro de contado, achava-se esta Capital constrangida a pagar outros seis milhões e meyo, sem dilaçaõ, com a cominaçaõ das mais rigorosas execuções militares. A estas tam graves extorções, se ajuntava hum sem numero de aggravos, que se multiplicavaõ cada dia mais contra o Povo desta Capital, como contra os mais de todo o Estado; eu me naõ dilatarey em relatalos a V.m. com distincçaõ, mas porque possa ter alguma idèa delles, bastarà entre tantos, que V.m. saiba como nos lugares maritimos se tomavaõ por força, e sem serem satisfeitas, as embarcações de toda a casta, para se transportarem Tropas, e mantimentos; em outros se constrangiaõ as Communidades a contribuir viveres para os Soldados, pela metade menos do preço, que os compravaõ os proprietarios; nas terras mais pobres, se extorquiaõ dos Officiaes subalternos somas consideraveis de dinheiro debaixo de titulo de deixalos viver com quietaçaõ; as Tropas haviaõ de ser abundantemente providas, com dispendio excessivo em huma Provincia exteril, e limitada nas suas producções, e sem embargo disto, nunca deixavaõ de devastar as terras, e as cazas, e os moradores mesmos naõ ficavaõ izentos de pancadas, e outros insultos; os operarios ficavaõ ordinariamente defraudados do seu trabalho, os Cidadões vilipendiados com injurias, os Mercadores, e Tendeiros constrangidos a vender por preços muito menos do justo, e finalmente o Povo todo quotidianamente insultado, com palavras descompostas, e com violencias nunca vistas. Hia-se entretanto em Genova diminuindo o pouco, que ainda ficou do comercio, unico remedio da Cidade; e aumentava-se pelo contrario a indigencia de tudo quanto se faz precizo para a vida; via-se despovoado o Porto desta Capital, e todos os mantimentos, que traziaõ as embarcações para o precizo sustento, eraõ violentamente embargados dos Generaes, e Commissarios do Exercito, com o fundamento de prover com elles a Armada, ou com o pretexto de derigilos na Provença; ficava inteiramente interdicta a navegaçaõ, por falta de passaportes, cruelmente negados do General Botta, e tanto mais necessario para as embarcações, que navegavaõ de Portos remotos, quanto da extrema ruina a qualquer casta de trafego livre; dentro do mesmo Porto, com exemplo execrando, e nunca visto, se permitia fossem embargados os mesmos navios, que nelle entravaõ, sem reparo ao damno enormissimo dos proprietarios, e ainda mais de todo o Povo, a quem se tirava com tal violencia os meyos de poder sustentar. Alguns Officiaes de guerra Austriacos, tomavaõ a liberdade de entrar hostilmente armados a cavallo na mesma alfandega, para darlhe busca; acçaõ, que realmente indicava peores consequencias para todos os negociantes, porque justamente temiaõ, que as fazendas, tanto proprias, como alheyas, ficassem taõ pouco seguras no sempre respeitado couto da dita Alfandega, como o dinheiro na Caza de S. George. Para reparar tantas violencias, e tantos prejuizos naõ era sufficiente o paternal zelo, e acertadas providencias do Governo, que naõ obstante ver totalmente exhausto o publico erario, suspendia com tudo o aggravo de novos impostos, antes procurava de suprimir parte daquelles, que saõ indispensaveis para o Estado, porque os excessivos damnos, que causaraõ as Tropas Austriacas, jà se naõ podiaõ de maneira alguma remediar. O progresso das armas delRey de Sardenha na Ribeira do Poente, e o sitio da Cidadella de Savona, causava a todos os Cidadões, e negociãtes as mais dolorosas apprehenções, e com universal sentimento se fallava na pessima constituiçaõ, em que se achava o nosso Publico constrangido a se naõ deffender, nem cometer hostilidades contra as Tropas Piamontezas, a tempo que estas hiaõ à sombra de Sua Magestade Imperatriz Rainha, e da Armada maritima de Inglaterra, conquistando com pouco trabalho os seus Estados, e as Praças mais importantes. A motivos tam fortes de tam grande aflicçaõ, se juntava o receyo das execuçoens militares, que jà se tinhaõ por inevitaveis, vista a impossibilidade de se poder satisfazer as immensas somas jà expressadas, e dos avizos certos, que chegavaõ de todas as partes, que o assguravaõ. Reparava-se neste tempo, que por ordem do General Comandante Marquez Botta, se faziaõ destintamente reconhecer, e examinar com cuidado os Postos, e as Fortificações mais importantes de Genova; vio-se occupar das suas Tropas o Bastiaõ de S. Bento, que domina esta Capital, e varios outros Fortes dos novos muros, que a sogeitaõ, e se tem advertido, que os cinco morteiros para bombas do dito Bastiaõ, foraõ apontados tres delles contra a Cidade, e dous contra o Palacio Ducal, e finalmente ouvio-se publicar de toda a Tropa, que Genova em breve tempo se assemilharia a hum Inferno, que era precizo extorquir della atè o ultimo real, e que se naõ devia aos moradores deixar mais, que os olhos para chorarem as suas disgraças. Qualquer animo desapaixonado, conhecerà sem duvida, em que consternaçaõ se haviaõ de achar todas as classes deste Povo, muitos Cidadões dezemparavaõ a patria, por naõ presenciarem a ruina della, outros punhaõ em salvo as mulheres, e filhos, para naõ os exporem ao ludibrio dos Soldados, outros internamente fremiaõ esperando o ponto da fatal tragedia, e em todos jà naõ cabia lugar de mayor irritamento para tomar qualquer resoluçaõ por fatal, e extrema, que fosse. Estando as cousas nestes termos transportava-se por ordem do General Commandante a artelharia da Cidade para se embarcar, e levar para o Exercito na Provença; inuteis, como sempre, ficavaõ as representações, que se faziaõ por parte do Governo; mas o Povo, jà enfurecido por tantos motivos, naõ podia de nenhuma sorte tollerar, que se retirasse o que conhecia preciso para sua defença, e vera Cidade, ficando desarmada, exposta aos insultos de qualquer, que quizesse atacala. Sucedeu pois, no dia 5 do corrente a tempo, que se transportava hum grande morteiro para bombas, por hum dos principaes bairros, chamado Protauria muito povoado, que se profundou com o grave pezu, a rua por onde passava; os Officiaes Austriacos, que assistiaõ ao transporte, quizeraõ por força obrigar alguns dos circunstantes a levantar a pezada maquina, e como achàraõ repugnancia nelles, os maltrataraõ com pancadas, acudio à tal violencia mayor numero de gente, e às pedradas afugentou os ditos Officiaes, e Soldados, que foraõ obrigados a desempararem o morteiro. Irritado porèm o Povo da proxima injuria, e muito mais da excessiva, e continua oppressaõ, em que se via, principiou a tomar aquelles expedientes, que lhe suggeria a dezesperaçaõ; juntou-se hum grande numero delles, transferiraõ-se de noute ao Palacio Ducal, e pediraõ tumultuariamente com altas vozes, e por muitas horas, as armas; porèm o Governo naõ só lhas negou constantemente, mas procurou com os meyos mais efficazes de apasiguar no principio o tumulto, deputando ao tal intento alguns Patricios para com a sua authoridade applacarem a furia do Povo, sobre o qual sempre foy precizo, para tello afastado do Palacio, ordenar às Guardas, que fizessem algumas descargas de fuzilaria. Estes, e outros meyos, que se tomàraõ, haveriaõ talvez colhido algum fruto se as contrarias idèas do Cõmandante General naõ os fizessem inuteis. O Governo por meyo de hum Patricio informou o dito General na mesma noute de 5. de todo o successo, para que entrasse na consideraçaõ de quanto lhe era precizo moderar o seu genio; a mesma repres[~e]taçaõ lhe foy repetida no dia successivo pelos dous Deputados ordinarios da Rèpublica para persuadilo a naõ intentar cousa alguma de novo, e a suspender o transporte da artilharia por naõ excitar mais a emoçaõ popular, e principiar por este modo a pôr na Cidade o socego; porèm elle entendeo, que naõ convinha. Por tanto ordenou sem mais consideraçaõ, no mesmo dia 6. que hum destacamento dos seus Granadeiros fosse a defender, e proseguir o transporte da artilharia; porèm ficàraõ tambem estes rechasados, e tanto se derramou o furor no Povo, que huma parte delle intentou expulsar das Portas de Santo Thomàz, em que estavaõ aquartelados, os Austriacos, e estes pelo contrario se adiantaraõ, e occupàraõ algumas emin[~e]cias muito importantes dentro da mesma Cidade na rua chamada da agua verde, e no bairro chamado de Priè. Reforçava-se entretanto ocularmente o Povo, e depois de ter no dia 7. posto alg[~u]as defensas cõtra as ditas eminencias, tornou outra vez a pedir com mayor instancia, e resoluçaõ as armas, e denegando-as com igual constancia o Governo, foy com tudo obrigado a aumentar extraordinariamente as Guardas do publico Palacio, e por hum grosso Piquete nos armazens das armas; porque muitos do Povo com escadas muito altas, que tiràraõ das Igrejas, e outras partes, tinhaõ disposto a entrada pelas janellas dos ditos armazens, porèm vendo frustrado o intento, viraraõ-se a dar busca em todas as cazas da Cidade, e nas logeas a donde se persuadiraõ achariaõ armas, e muniçoens de guerra; forçàraõ os armazens da polvora, desarmàraõ alguns Postos de Tropas regulares, que estavaõ na dita Cidade, occupáraõ varias baterias, e transportàraõ em hum instante algumas peças de artilharia nos postos, que erigiraõ cõtra as sobreditas eminencias, e principiou-se desta sorte o fogo, que durou reciprocamente por muitas horas. Naõ faltavaõ ao mesmo tempo os sobreditos Deputados do Governo em sempre instar com o Comandante General para que concorresse de alguma sorte em huma occasiaõ tam urgente a fazer uteis as diligencias, que o Governo continuava para mitigar os espiritos revoltos do Povo; mas como elle naõ julgou proprio dar reposta alguma positiva, faltou para este motivo o meyo para conseguir o fim que se desejava. O Povo, que se naõ julgava seguro jà das execuçoens militares, tantas vezes intimadas, nem taõ pouco do rigor do General (caso que ficasse superior) determinou pedir a entrega das Portas da Cidade, que prezidiavaõ as Tropas Austriacas, e a desistencia do transporte da artilharia, como meyos indispensaveis da sua manutençaõ, e defença, e o Comandante General pelo contrario, naõ só denegava absolutamente este indulto, mas tambem toda a moral cauçaõ; e menos se resolvia a explicar por escrito atè donde chegariaõ as suas determinações. Sem embargo disto, introduzio-se no dia seguinte 8. da manhãa huma especie de armisticio, do qual, attento o Governo, se aproveitou para renovar as suas diligencias, e ver se podia de algum modo evitar a ruina eminente, ao mesmo intento, empenhou-se o Principe Doria, e varios outros sogeitos proprios para semelhantes cazos; avistaraõ-se, e persuadiraõ com toda a energia ao Comãdãte General, mas como o acharaõ firme sempre na sua presistencia em naõ querer consentir no que pedia o Povo, dando sempre respostas inconcludentes, e ambiguas sem nunca querer dar por escrito nenhuma palavra, ficaraõ frustradas todas as diligencias, e infructuoso qualquer tratado. Chegou por fim o dia 10. em que o Povo (cujas forças jà estavaõ summamente crescidas) naõ podendo admitir jà outros conselhos, que os da propria defença, e cauçaõ, naõ só renovou a busca das armas, e das muniçoens de guerra nas cazas particulares, mas violentou os depositos publicos, e tomou por força a posse das milhores baterias, e daquellas portas da Cidade, que ainda se guardavaõ das Tropas da Republica, de ahi entrou nas Igrejas, fez que ao toque de sinos se convocassem todos os habitantes de qualquer classe, e condiçaõ, que fossem, intimoulhe, pena de vida, apparecessem armados nos respectivos lugares, que se lhe destinàraõ; obrigou atè os mesmos Sacerdotes, e qualquer, que se achava na Cidade a tomar as armas, e finalmente naõ se via em todas as partes, cousa que naõ fosse hum impeto indomavel, e huma firme resoluçaõ, ou de vencer, ou de morrer. Durou com tudo por algumas horas do mesmo dia 10. o sobremencionado armisticio, e se o Senhor Comandante General Marquêz Botta, tivesse oportunamente adherido as instancias do Povo; podia com fundamento esperar-se, que pararia esta torrente, mas como elle procurava só dilações, e continuava no sistema de naõ concluir cousa alguma, acabou de conduzir os animos atè ao ultimo extremo da desesperaçaõ, cujos effeitos saõ dignos de seria ponderaçaõ, quando jà naõ tem outro remedio. Principiou-se da parte dos Austriacos imponderadamente o fogo de algumas peças de artilharia, excitou-se a vista disto na plebe, hum furor inexplicavel, logo acometeu com impavida resoluçaõ, duas horas antes do meyo dia os sobreindicados postos importantes em [~q] as Tropas Austriacas se tinhaõ fortificado dentro da Cidade, ficaraõ vencidos, e fez prizioneiros os destacamentos, que os guardavaõ, e tomaraõ duas peças de artilharia de Campanha, e dahi proseguindo com o mesmo calor, assaltou as jà mencionadas Portas de Santo Thomàz, senhoreou-se dellas em hum momento, e progredindo, sahio na Praça contingua chamada do Principe Doria, na qual estava formado hum grosso de dous mil e quinhentos Austriacos, que naõ podendo resistir ao grande impeto com que foraõ acometidos na frente, e de outro destacamento que descia de huma eminencia à dita Praça pelas espaldas, fogiraõ precipitadamente, e perseguidos sempre com mais vigor, foraõ obrigados a dezemperar tambem as segundas portas chamadas da Lanterna ao mesmo tempo que outro Piquete de Paisanos, e Cidadões tinha restaurado o Bastiaõ jà nomeado de S. Bento. Restauradas deste modo as Portas da Cidade, e expulsos inteiramente della os Austriacos, pareceo ao Povo haver bastantemente assegurada a sua liberdade, por isso naõ cuidou mais em perseguillos, o que foy para elles de grande fortuna, porque na mesma noute do dia 10. atè 11. tiveraõ largo tempo de porem em salvo o thesouro que tinhaõ no exercito, e de retirarem o restante das Tropas, as quaes deixando armazens, e bagajem proseguiraõ com grande diligencia as suas marchas atè repassarem a Boqueta, e restabelecerem o seu quartel General entre o Forte de Gavi, e Cidade de Novi. O desejo da liberdade, e os motivos da ira, e do temor como existiaõ igualmente nos mais Povos das Comarcas vizinhas à Capital, extremamente damnificadas do irregular modo das Tropas Austriacas, e expostas aos inconvenientes, e perigos, que o succcesso na Cidade podia fazer cair sobre ellas, as obrigou tambem a se assegurarem dos respectivos destacamentos, que se achavaõ nos seus districtos. Muy limitada foy a perda do Povo, porque em todas as acçoens, e ataques naõ se contaõ 50. entre mortos, e feridos; os Austriacos padeceraõ muito mais, porèm grande he o numero dos que ficaraõ prizioneiros, porque excede de 4U. e tantos; com estes como com os doentes se tem visto, e se vê o povo (ainda atendendo às insinuações mais vivas do Governo) com toda a atençaõ possivel. Como determinei de naõ entrar em huma relaçaõ distinta de todos os successos para naõ ampliar demaziadamente a presente Carta, assim deixo de apontar a V.m. os de menor entidade, como he o do botim dos Armazens, a que concorreram atè as mulheres, e rapazes, como o das instancias, que se fizeraõ contra as fazendas dos que se correspondiaõ com os Austriacos como do saquo, [~q] se deu à caza de hum destes patricios, que na Terra de Albaro procurou salvar hum Destacamento de Alemões, e como de outros semelhantes factos, que na geral revoluçaõ de tanto povo se faziaõ absolutamente inevitaveis. Sò o que direi he que os Officiaes Austriacos, que ficàraõ prizioneiros, como a mayor parte dos que ultimamente aqui se achavaõ, naõ cessaõ de arguir, e condenar a conduta do seu Commandante, como a do Conde de Chotek, a quem atribuem sem rebuço algum, os motivos da revoluçaõ succedida. Naõ posso explicar bastantemente a admiraçaõ, que me causou naquelle dia, e que ainda me causa o ver que ao mesmo tempo, que a desesperaçaõ soministrava as armas a este povo, elle com tudo seguindo as constantes maximas do Governo, nunca cessou, nem cessa de exprimir com a mayor veneraçaõ o respeito devido a S. Magestade Imperatriz Rainha, em cuja magnanima integridade tanto fia, e espera, que quando ficar sinceramente informada dos motivos, a que se deve atribuir esta sua extrema resoluçaõ, se dignarà de reconhecer tambem os infortunios de huma Naçaõ inteiramente constrangida a arriscar tudo para salvar o que he aos homens grato mais neste mundo. Finalmente como foy sempre grande, e he o obsequio, a fidelidade, e filial amor destes póvos para o Serenissimo nosso Governo, assim solemnemente protestaõ, que igual serà em todos os tempos o zelo, e empenho delles para a sua conservaçaõ, que he o estimulo mais importante dos disvelos, e dos cuidados communs, prontos para em qualquer occasiaõ, e tempo dar disso as provas mais evid[~e]tes, e de derramar o sangue naõ só pela conservaçaõ, e interesses da Republica, mas pela defença da Patria, e da liberdade. Taes saõ as expressoens dos meus Cidadões, e taes os successos, que me obriguei relatar, V.m. formará delles aquelle recto juizo aos mesmos correspondentes, e se todo o Mundo deve provavelmente interessarse a favor de h[~u]a Republica que em meyo das suas desgraças se tem feita digna de melhor fortuna, essa illustre Naçaõ serà distintamente empenhada a lha procurar por todos os respeitos que naõ deixaraõ de se lhes offerecerem diante dos olhos na contingencia presente, mas sobre tudo deve ella esperala da Divina Providencia, que com especialidade protege os opprimidos: tenho a honra de ser perfeitamente. Genova em 15. de Dezembro de 1746. De V.m. *** END OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK CARTA DE HUM CIDADAM DE GENOVA A HUM SEU CORRESPONDENTE EM LONDRES *** Updated editions will replace the previous one—the old editions will be renamed. 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Except for the limited right of replacement or refund set forth in paragraph 1.F.3, this work is provided to you ‘AS-IS’, WITH NO OTHER WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO WARRANTIES OF MERCHANTABILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE. 1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages. If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any provision of this agreement shall not void the remaining provisions. 1.F.6. 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It exists because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from people in all walks of life. Volunteers and financial support to provide volunteers with the assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg™’s goals and ensuring that the Project Gutenberg™ collection will remain freely available for generations to come. In 2001, the Project Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure and permanent future for Project Gutenberg™ and future generations. To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 and the Foundation information page at www.gutenberg.org. Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non-profit 501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal Revenue Service. The Foundation’s EIN or federal tax identification number is 64-6221541. Contributions to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent permitted by U.S. federal laws and your state’s laws. The Foundation’s business office is located at 809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887. Email contact links and up to date contact information can be found at the Foundation’s website and official page at www.gutenberg.org/contact Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation Project Gutenberg™ depends upon and cannot survive without widespread public support and donations to carry out its mission of increasing the number of public domain and licensed works that can be freely distributed in machine-readable form accessible by the widest array of equipment including outdated equipment. Many small donations ($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt status with the IRS. The Foundation is committed to complying with the laws regulating charities and charitable donations in all 50 states of the United States. Compliance requirements are not uniform and it takes a considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up with these requirements. We do not solicit donations in locations where we have not received written confirmation of compliance. To SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any particular state visit www.gutenberg.org/donate. While we cannot and do not solicit contributions from states where we have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition against accepting unsolicited donations from donors in such states who approach us with offers to donate. 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