Project Gutenberg's Chronica d'El-Rei D. Affonso III, by Ruy de Pina This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online at www.gutenberg.org Title: Chronica d'El-Rei D. Affonso III Author: Ruy de Pina Release Date: April 21, 2005 [EBook #15674] Language: Portuguese Character set encoding: ISO-8859-1 *** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK CHRONICA D'EL-REI D. AFFONSO III *** Produced by Rita Farinha and the Online Distributed Proofreading Team. This eBook is based on images generously provided by the Biblioteca Nacional Digital (http://bnd.bn.pt). BIBLIOTHECA DE *Classicos Portuguezes* Proprietario e fundador _MELLO D'AZEVEDO_ BIBLIOTHECA DE CLASSICOS PORTUGUEZES Proprietario e fundador--MELLO D'AZEVEDO (VOLUME LIV) CHRONICA D'EL-REI D. AFFONSO III POR RUY DE PINA ESCRIPTORIO 147=RUA DOS RETROZEIROS=147 LISBOA 1907 CHRONICA DO MUITO ALTO, E MUITO ESCLARECIDO PRINCIPE D. AFFONSO III QUINTO REY DE PORTUGAL, COMPOSTA POR RUY DE PINA, Fidalgo da Casa Real, e Chronista Môr do Reyno. FIELMENTE COPIADA DO SEU ORIGINAL, Que se conserva no Archivo Real da Torre do Tombo. OFFERECIDA A' MAGESTADE SEMPRE AUGUSTA DELREY D. JOAOO V. NOSSO SENHOR. POR MIGUEL LOPES FERREYRA LISBOA OCCIDENTAL Na Officina FERREYRIANA. M.DCC.XXVIII. _Com todas as licenças necessarias_. SENHOR Continuando com a edição das Chronicas dos Senhores Reis de Portugal, gloriosos Predecessores de V. Magestade, continuo tambem na precisa obrigação de as offerecer a V. Magestade. Nesta do Senhor Rei D. Affonso III verá V. Magestade os caminhos que buscou a Providencia Divina para que empunhasse o Scetro um Principe, que para ter menos esperanças do trono se achava cazado em França, e verá V. Magestade a felicidade, com que soube estabelecer nos seus descendentes a Monarchia, que acrescentou com Estados novos, e que soube segurar com a total expulsão dos Africanos. Sirva-se V. Magestade de amparar o meu zelo com a sua Real benignidade, para que animado com tão soberano favor possa dar á luz as Chronicas que faltam. A Real Pessoa de V. Magestade guarde Deos muitos annos como dezejamos. _Miguel Lopes Ferreira_ AO EXCELLENTISSIMO SENHOR *D. FRANCISCO XAVIER DE MENEZES* Quinto Conde da Ericeira, do conselho de Sua Magestade, Sargento mór de Batalha dos seus Exercitos, Deputado da Junta dos Tres Estados, Perpetuo Senhor da Villa da Ericeira, e Senhor da de Ancião, oitavo Senhor da Caza do Louriçal, Commendador das Commendas de Santa Christina de Sarzedello, de S. Cipriano de Angueira, S. Martinho de Frazão, S. Payo de Fragoas, de S. Pedro de Elvas, e de S. Bertholameu de Covilhã todas na Ordem de Christo. Academico da Academia Real da Historia Portugueza, e um dos cinco Censores della. Meu Senhor aonde não chega a confiança propria, é necessario buscar o amparo alheio. É tão elevada a Magestade, que nem ainda obsequioso me atrevo a chegar a ella: e por esta cauza procuro o patrocinio de V. Excellencia para que com a sua pessoa consiga o que por mim não posso. Espero que V. Excellencia se digne de me fazer esta mercê, porque a continuação dos seus estudos, e a grande livraria que tem junto a sua erudição, justamente me desculpa para lhe pedir a protecção para um livro, que como de Historia da Patria precede a todos na lição, e porque sendo offerecido a Sua Magestade pela mão de V. Excellencia terá a acceitação que dezejo. Deus guarde a V. Excellencia muitos annos. Criado de V. Excellencia _Miguel Lopes Ferreira_ *AMIGO LEITOR* Não me podes accuzar de falto de palavra, pois vês que te dou agora a Chronica del-Rei D. Affonso III que foi o Quinto Rei desta Monarchia. De serem breves as narrações das suas vidas, e summamente compendiadas as noticias dos seus governos, não tenho eu a culpa, tem-na os Chronistas que, ou não quizeram, ou não souberam. Tudo podia ser, porque a falta em semelhante materia procede umas vezes de não haver quem informe, e outras de não escreverem, o que todos sabem. Donde nasce que deste principio experimentamos o dano, porque desprezaram escrever o que era sabido, e desta sorte padecemos uma involuntaria ignorancia. Cazou este Principe em França donde esteve, e assistiu alguns annos, e sendo impossivel que não fizesse naquelle tempo acções dignas da sua pessoa, ou na paz, ou na guerra, tudo ficou sepultado em um profundo silencio, de que são reos os que escreveram primeiro. Ainda depois de nomeado Governador de Portugal, e ainda depois de ser Rei não houve aquelle cuidado nas penas dos Chronistas, que merecia a sua politica, que não foi nesta grande arte inferior aos maiores. Lê, e espera que brevemente te busque com a Chronica de seu filho o famoso Rei D. Diniz. _Vale._ LICENÇAS DO SANTO OFFICIO Vistas as informações, pode-se imprimir a Chronica de que se trata, e depois de impressa tornará para se conferir, e dar licença que corra, sem a qual não correrá. Lisboa Occidental o primeiro de Outubro de 1726. _Fr. Lancastre. Cunha. Teixeira. Silva. Cabedo._ DO ORDINARIO Vista a informação, pode-se imprimir a Chronica de que se trata, e depois de impressa tornará para se conferir, e dar licença que corra, sem a qual não correrá. Lisboa Occidental 4 de Outubro de 1726. _D. J. A. L._ DO PAÇO _Approvação do Doutor Manuel de Azevedo Soares, Cavalleiro professo na Ordem de Christo, do Dezembargo de Sua Magestade, Desembargador da Casa da Supplicacão, Juiz dos Contos do Reino, e Caza, Academico da Academia Real da Historia Portugueza, &c._ SENHOR Esta Chronica del-Rei D. Affonso III que pertende imprimir Miguel Lopes Ferreira assás recomendação tinha em o nome de seu Author para facilitar a licença que se pede: porque sendo Ruy de Pina Chronista de tão grande opinião, por ella só, ficavam approvadas as suas obras, sendo superfluos todos os encomios com que justamente se podiam encarecer.[1] Não falta com tudo quem affirme que nem todas as obras, que se divulgam por suas, o são. E se em alguma póde ter lugar a conjectura de que o não seja, é esta uma dellas ao que parece; porque sem passar do Capitulo terceiro, se encontra uma inverosimilidade, certamente muito alhea do entendimento de tão grande homem. Diz que sabendo a Condessa de Bolonha Mathilde, que seu marido era obedecido por Rei pacificamente, e não sabendo nada do seu cazamento, confiando, que se elle a visse, a trataria, e honraria como sua verdadeira mulher, aprestara Naos, e que bem acompanhada, e com um filho, que se disse ter do dito seu marido, se embarcara para este Reino, e chegando a Cascaes donde soubera logo, que elle estava em Friellas, e cazado com outra mulher, recebendo grande indignação, e tristesa, arrependida de ter vindo, especialmente depois de saber da condição da segunda mulher, tomando parecer, mandára dous Cavalleiros principais dos que trazia comsigo, para que participassem a El-Rei a sua vinda, e a sua queixa; e pela reposta, que trouxeram, se voltara para França, deixando o filho, segundo diziam uns, e que por certa lembrança achara, o havia levado comsigo, e que depois o mandara a este Reino, com outras mais circumstancias, que se referem no dito Capitulo. Não reparo em que faça menção de filho, e nem ainda que a Condeça tomasse a resolução de vir a este Reino sem premeditar as contingencias do successo, como se foi assim, lhe mostrou a experiencia, porque muitos Historiadores seguiram aquella tradição com circumstancias mais inverosimeis; cujo erro se acha novamente refutado com demonstrações, e authoridades evidentes, pelo eruditissimo Academico o P. D. Joseph Barbosa.[2] Reparo sómente em que se diga, que a Condeça não sabia nada do cazamento de seu marido, porque demais de se affirmar o contrario por muitos Historiadores, sendo aquelle cazamento tão escandaloso, e sendo a grandeza dos delinquentes, a que mais vulgariza os seus delictos,[3] como é crivel o ignorasse a Condeça; e mais por ser entre pessoas de tão alta jerarquia; com instrumentos de dote publicos, e havendo tão pouca distancia para a noticia, como de Portugal a França. Quando ainda os segredos dos Principes, mais reconditos, estão sugeitos á infidilidade dos mesmos a que se confiam,[4] se obrigava a um tal excesso, o seu affecto, sendo deste inseparavel a desconfiança,[5] como é verosimil, se lhe ocultase a sua offensa.[6] Disto sem duvida se origina o pouco credito, que tem muitas historias, porque devendo ser a verdade o seu essencial fundamento,[7] notando-se-lhes algum erro em parte regularmente perdem a fé de todo.[8] E ainda que pelo Historiador a que foram commettidas as memorias deste Monarcha na Real Academia, que V. Magestade instituio para que resuscitassem na memoria dos seculos futuros, aquelles heroes, que sendo na vida esclarecidos, os escureceu a morte, sepultando-os nas tenebrosas urnas de um ingrato esquecimento[9] se restituirá de todo á verdade aquelle successo, conforme a empresa da mesma Academia: com tudo sendo na opinião de Santo Augustinho util que se publiquem livros repetidos sobre a mesma materia, com diversidade de estylo,[10] ainda me parece se póde conceder a licença, que se pede, sendo V. Magestade servido, porque sempre ficará illesa a fama do Author da Historia, na opinião dos que o conhecem, distinguindo na obra o que póde ser parto do seu entendimento. Lisboa Occidental 20 de Julho de 1727. _Manoel de Azevedo Soares_. Que se possa imprimir visto as licenças do Santo Officio, e Ordinario, e depois de impressa torne á mesa para se conferir, e taxar, e sem isso não correrá. Lisboa Occidental, 7 de Agosto de 1727. _Pereira. Oliveira. Teixeira._ [Nota de rodapé 1: Super vacanci laboris est laudare conspicuos. Symach. I*. 3. Epistol. 48.] [Nota de rodapé 2: Catalog. Chronolog. das Rainhas de Portugal á n. 241.] [Nota de rodapé 3: Dum in imis est quispiam, ejus quodam modo vitia delitescunt; cum vero ad dignitatis culmen ascendit in superficiem mox erumpunt, et quæ fuerant catenus inaudita jam per ora rumigeruli populi trita vulgantur S. Petr. Damian. Epist. 20 ad Cadol. Qui magno imperio præditi, in excelso ætatem agunt, eorum facta cuncti mortales novere. Salust.] [Nota de rodapé 4: Areana Regu ipsi predunt Satellites Gruterus. Florileg. c. 2] [Nota de rodapé 5: Vel alieni amoris æmulus, quod frequentissimum est in amore vitium. Guillielm. Castellus apud Textor. in Epithet.] [Nota de rodapé 6: Ita Zelotipus in omnes ahorum gressus assiduo intentus totidem suspicionum umbras producit, quoties illos è loco moveri animadvertunt Picinel. mund. Symbol. 1. 16. n. 66.] [Nota de rodapé 7: Non ostentationi, sed fidei, veritati que componitur Plinio Jun. 1. 6. Epist. 16. lux et evangelium veritatis Cassan. catal. glor. mund. p. 10. consid. 46.] [Nota de rodapé 8: Et si per currantur horum historicora scripta, tacite reperiuntur multa falso ab eis conscripta, quot fit, ut falsus in uno, in cæteris fide perdant. Menoch. cos. 112. v. 71. Paris. consil. 23. n. 253.] [Nota de rodapé 9: Historia reru que gestarum descriptio, tubæ clangor, quo jam olim mortui velut e sepulcro excitati, in mediu producuntur. Nicetas. Quia hoc quotidianu, et vulgare est, multi famosi in vita, et clari post obitu, sunt incogniti, et obscuri. Petraca de prosper. fortun. Dialog. 117.] [Nota de rodapé 10: Utile esse plures libros a pluribus diverso stilo, de eisdem quæstionibus fieri, ut ad plurimos res ipsa perveniat ad alios quidem sic, ad alios vero sic. D. August. in quæstion. de Trinit. c. 3.] _Coronica do muito alto e esclarecido Principe D. Affonso III quinto Rei de Portugal_ CAPITULO I _Como se intitulou Rei de Portugal, e do Algarve, e como accrecentou os Castellos no Escudo das Armas Reaes, e a causa porque_ Por falecimento del-Rei Dom Sancho deste nome o segundo, a que disseram Capello, porque delle não ficou herdeiro do Reino legitimo descendente, que o succedesse, foi alevantado, e obedecido por Rei na Cidade de Lisboa o Ifante Dom Affonso Conde de Bolonha, seu irmão, a que o Reino de Portugal por sucessão direitamente pertencia, em idade de trinta e oito annos na era de mil e duzentos e quarenta e sete, (1247) o qual era, filho legitimo del-Rei Dom Affonso o Segundo, irmão menor do dito Rei Dom Sancho, por cujos defeitos, e por não reger como devia elle veo de Bolonha a este Reino de Portugal, e o governou, e defendeo dous annos, não se chamando Rei, mas Procurador, e Defensor delle por mandado do Papa, como na Coronica del-Rei Dom Sancho claramente se disse, e depois que o dito Rei Dom Affonso Reinou durando os primeiros annos de seu Reinado, e antes de ter cazado a segunda vez com a Rainha Dona Breatiz, sua sobrinha, filha del-Rei Dom Affonso deste nome o Decimo de Castella, se intitulou sómente Rei de Portugal, e Conde de Bolonha, e trouxe seu Escudo com as sós Quinas sem a Orla, e bordadura dos Castellos, assi como os outros Reis de Portugal até este tempo trouxeram, segundo eu Coronista o vi nos sellos pendentes de algumas suas Cartas, que naquelle tempo passaram, e as achei na Torre do Tombo destes Reinos, de que por o officio sou Guarda-mór. Porque depois que com a dita Rainha Dona Breatriz lhe foram dadas as Villas, e Castellos do Reino do Algarve, elle foi o que primeiro se intitulou Rei de Portugal, e do Algarve, e poz na orla do dito Escudo, e Quinas os Castellos dourados em campo vermelho, que logo elle, e depois os outros Reis de Portugal que delle decenderam sempre atégora trouxeram, e esto afirmo assi por declaração da duvida, que por muitos sobre os ditos Castellos já ouvi mover, a saber, se são Castellos por esta rezão, que disse, ou pelos de Riba de Coa, que a este Reino creceram, ou se eram com folões, ou bandeiras, que se dizem as Armas do Condado de Bolonha, e assi disputar sobre o numero dos ditos Castellos, a que digo, e afirmo que não podem ser Castellos pelos de Riba de Coa, porque El-Rei Dom Diniz filho del-Rei Dom Affonso os ganhou, e houve depois que Reinou, como em sua Coronica se dirá, nem menos pareçam, que sejam por respeito das Armas de Bolonha, que por seu cazamento, posto que em sua vida as trouxesse, ellas não ficavam, nem podiam ficar depois de sua morte á Coroa Real do Reino de Portugal, quanto mais que a honestidade, e rezão contrariavam elle trazer em Portugal as Armas de Bolonha, por memoria da Condeça sua molher de que contra direito, e em desprezo della se apartou, e nunca depois a quiz ver, por onde é mui certo que sómente são pelos ditos Castellos do Reino do Algarve como disse. Os quais Castellos, posto que na primeira doação del-Rei de Castella ficam del-Rei Dom Affonso, seu genro a seus filhos, estão por numero certo, e assinados, nem por isso obrigam serem trazidos nas Armas por aquelle numero certo, porque naquelle tempo El-Rei de Castella lhe deu os mais que ganhasse, como ganhou sem os declarar, assi que estes Castellos são postos na Orla, não por numero certo, mas o que nella em boa proporção bem podesse caber, e porém El-Rei Dom Affonso logo como Reinou, e assi depois que a segunda vez cazou foi bom Rei, verdadeiro, e prudente, e de coração mui esforçado, e muito amigo da Justiça, por a qual a muitos mal feitores, que foram prezentes, e em seus crimes comprehendidos, deu suas devidas penas, com medo das quaes outros se foram da terra, e regeo bem o Reino com devida, e inteira equidade, e proveo o povo em inteira Justiça, e sua real Caza, e Fazenda com singular regra, e louvada ordenança, e fez muitas boas, e novas povoações em muitas partes do Reino, que eram despovoradas, e mandou lavrar, e aproveitar os termos de muitas Villas, e Castellos para repairo, e culto da terra, que dos tempos passados estava mui denificada, e quaes foram as obras dinas de memoria que fez além dos feitos grandes darmas de sua conquista do Algarve, no fim desta sua Coronica em soma particular estão declaradas. CAPITULO II _Como El-Rei D. Affonso sendo casado com a Condessa de Bolonha em França a leixou, e casou com a filha del-Rei de Castella_ Este Rei Dom Affonso sendo casado com Dona Matildes Condessa de Bolonha em França, elle a leixou no dito Condado, e se veo a Portugal, como na Coronica del-Rei Dom Sancho seu irmão é declarado, e depois de sua vinda a poucos annos casou outra vez com a Rainha Dona Breatiz, filha bastarda del-Rei de Castella, a qual elle houve em Dona Mayor Guilhelme de Gosmão, sua manceba, a que foi muito afeiçoado, e a que fez mui firmes, e grandes doações de muitas Villas, Castellos, e rendas de Lugares no Reino de Castella, para depois de sua morte ficarem á dita Rainha D. Breatiz sua filha, e a seus filhos herdeiros para sempre, porque, segundo parece pelas palavras do testamento que o dito Rei Dom Affonso fez, elle antre todolos filhos, e filhas que teve, a esta Rainha Dona Breatiz, sua filha mostrou elle querer mór bem, e a que mais se devia por serviço e beneficios, e soccorros que della em suas tribulações mais que doutro algum tinha recebidos, e a que mais desejou galardoar, e dar muito do seu se pudera, o qual casamento del-Rei, e da Rainha Dona Breatiz, quando se concertou, e se fez foi assás maravilha dos homens que o sabiam, assi pela grandeza do dote delle, não sendo a Rainha filha legitima, como principalmente por casar em tempo, que a Condessa, sua primeira molher ainda era viva, e sobre este passo se acha por lembrança que um privado del-Rei Dom Affonso havendo este casamento por estranho, e muito contrairo a sua conciencia lhe disse que não fizera bem em casar com a rainha Dona Breatiz, pois sabia que era cazado com a Condessa de Bolonha, com quem já se muito contentára, e honrára de cazar, e que El-Rei lhe respondera, que se não espantasse do que tinha feito; porque ao outro dia ainda cazaria com outra molher, se com ella lhe dessem outra tanta terra, porque mais acrescentasse em Portugal. CAPITULO III _Como a Condessa de Bolonha veio a Portugal, e como El-Rei seu marido a não quiz ver, e ella se tornou, e do que sobre esso fez_ E passados alguns annos depois que El-Rei Dom Affonso partiu de Bolonha a Condessa sua molher, soube lá o falecimento del-Rei Dom Sancho, e assi como o Conde seu marido pacificamente era alevantado, e obedecido por Rei de Portugal, e não sabendo nada do cazamento del-Rei, e confiando que elle se a visse a trataria, e honraria como a verdadeira sua molher, que era, fez-se logo prestes, e em Naos bem aparelhadas, e de Cavalleiros, e nobre gente, e doutras gentes bem acompanhada, e com um seu filho, que se diz que tinha de seu marido, partio de sua terra, e veo ancorar ante a Villa de Cascais, cinco legoas de Lisboa, onde perguntando ella, e os seus por El-Rei onde era? Foi logo certificada que El-Rei estava em Frielas, duas legoas de Lisboa, cazado já com outra molher, com as quaes novas a Condessa recebeo muita torvação, e grande tristeza, e pezou-lhe muito de sua vinda, e assi aos de sua companhia, especialmente depois que soube o estado, e condição da segunda molher, que era filha del-Rei de Castella. E tendo concelho ácerca do que neste caso faria, acordaram, que antes de tudo era bem que fossem a El-Rei dous seus Cavalleiros principaes, que vinham com ella e delle eram bem conhecidos e a que por seus serviços, que nas guerras de França lhe tinham feitos, e por outros merecimentos, queria grande bem, e que estes lhe fizessem saber da vinda da Condessa, e assi o nojo, e espanto que por seu cazamento tinha com rezão recebido, e soubessem delle finalmente a detreminação de sua vontade. Estes Cavalleiros em chegando a El-Rei foram logo delle por seu conhecimento mui bem recebidos, mas depois que lhe propuzeram a Embaxada da Condessa com a graveza, e estranhamentos, que ella mandou, e disseram o mortal sentimento, e deshonra em que estava, e lhe pedia que por comprir sua bondade, e conciencia a recebesse no Reino, e tratasse por sua molher como merecia. El-Rei avendo-se delles por escandalizado, por ouzarem de lhe trazer em tal tempo tal mensagem com o rostro irado lhes disse, que de não perderem as vidas com suas cabeças cortadas os relevava naquella ora o grande bem que lhes queria, e os muitos serviços que lhe tinham feitos, e que porém não fizessem ante elle mais detença, antes que logo se tornassem á Condessa, e lhe dissessem que não saisse em seu Reino, mas que delle logo sem nenhuma delonga se partisse, e se tornasse para sua terra donde viera, que se o assi não fizesse elle teria com ella tal maneira de que lhe muito pezaria. Com esta reposta chea de tanta aspereza, e fóra de toda a humanidade, os Cavalleiros se tornaram para a Condessa, a qual maravilhada, e atemorizada da sem rezão, e indignação del-Rei, e das mais cousas, que elles em seu cazo mais passaram, e lhe contáram; mandou fazer prestes suas naos, e embarcou nellas, e se tornou para Bolonha, e o tempo que a Condessa veo a Cascais se diz, que ella trazia um filho seu, e del-Rei Dom Affonso, como já disse, cujo nome, vida, nem feitos não achei declaradamente escritos, porque uns dizem, que quando a Condessa se partio de Cascais, que o leixou em terra, para que o levassem a seu pai, dizendo que não quizesse Deos, que com ella tornasse cousa del-Rei, e por outra certa lembrança achei, que ella tornou a levar seu filho comsigo, e que depois o mandou a Portugal, onde El-Rei o mandou bem criar, e que saio muito bom Cavalleiro, e mui amado del-Rei, e dos Nobres do Reino, e que foi cazado com uma filha do Ifante Dom Pedro de Castella, que era a mais fermosa molher Despanha; mas qual era este Ifante Dom Pedro, e sua filha, e os nomes delles, e em que tempo cazaram, e que terra tiveram, e o que se delles fez depois eu o não soube. A Condessa como chegou á sua terra manifestou logo sua querella a seus parentes, que eram Nobres, e grandes homens no Reino de França, por cujo concelho, e ajuda, ella se enviou logo querelar ao Papa, que então era em França, noteficando-lhe largamente todo o que com seu marido passára no Reino de Portugal, pedindo a Sua Santidade que com suas Excommunhões, e Cençuras mandasse apartar El-Rei Dom Affonso seu marido, da Rainha Dona Breatiz, que como Christãos, não podiam cazar, como cazaram; e mandasse que recebesse a ella para ter a honra, dinidade, e terras que de direito, como sua verdadeira molher lhe pertencia. E o Papa maravilhado da novidade por seu Breve o enviou muito estranhar a El-Rei Dom Affonso, e lhe rogou, e amoestou com palavras catholicas, e mui honestas, que logo se apartasse do segundo cazamento, e quizesse estar pelo primeiro, conforme a justiça, e petição da Condessa, e porque El-Rei não satisfez com efeito aos mandados Apostolicos, o Papa enviou sua comissão ao Arcebispo de San-Tiago, porque lhe mandou que outra vez requeresse, e amoestasse El-Rei Dom Affonso ácerca de seu apartamento, e quando logo o não fizesse, que o citasse, e emprazasse, que a quatro mezes parecesse em pessoa perante elle em sua Côrte, para ser ouvido com a Condessa, e estar a todo comprimento de Justiça, e o Arcebispo fez inteiramente todo o que neste cazo o Papa lhe mandou, mas El-Rei não foi á citação em pessoa, mas cresse que mandaria seu Procurador por elle sobre este negocio. Foi na Corte do Papa ordenado processo, e foi por elle tanto procedido que em favor da Condessa, e contra El-Rei foi dada sentença do apartamento seu, e da Rainha Dona Breatiz, e porque não obedeceram a ella, foi pelo Papa posto antredito em todo o Reino que durou muitos annos, acabados os quaes andando a era em mil e duzentos sessenta e dous (1262), a Condessa de Bolonha Dona Matildes faleceo em França, por morte, que em Portugal foi logo sabida. CAPITULO IV _Como depois da morte da Condessa de Bolonha foi despensado com El-Rei Dom Affonso que cazasse com a Rainha D. Breatiz, e dos filhos que della houvesse_ Logo todos os Prelados, e Nobres homens, e povo do Reino enviaram sopricar ao Papa, e pedir-lhe que pois a dita Condessa era falecida mandasse alevantar o antredito que no Reino por muitos annos era posto, e quizesse dispenssar sobre o cazamento del-Rei com a Rainha Dona Breatiz, porque ambos como marido, e molher podessem licitamente viver, e ficassem lidimos os filhos, que já tinham havidos, e os que dahi por diante ouvessem, para com sua despensação poderem direitamente soceder no Reino de Portugal, depois da morte del-Rei seu padre, e assi quizesse revogar todalas doações que El-Rei Dom Sancho Capelo em fraude, e detrimento da Coroa de Portugal em suas necessidades tinha feitas ao Ifante Dom Affonso de Molina, e a outras quaesquer pessoas, por quam sem cauza, e contra direito eram, a que o Papa em todo logo satisfez, sobre que mandou passar suas Provisões Apostolicas, que vieram a este Reino, e estão em guarda na Torre do Tombo, sómente se acha que pela legitimação do Ifante Dom Diniz filho primeiro, e erdeiro, porque nacera em vida da Condessa de Bolonha, El-Rei Dom Affonso seu pai deu em especial, muita parte de seu thesouro. El-Rei Dom Affonso houve da Rainha Dona Breatiz sua molher estes filhos, a saber o Ifante Dom Diniz, que foi depois seu herdeiro, e sucessor, e nasceo em Lisboa dia de São Diniz, a nove dias de Outubro de mil duzentos sessenta e um annos (1261), e por a devação deste Santo, em cujo dia nasceu, elle mandou depois fazer o seu Moesteiro de São Diniz de Odivellas, onde se mandou sepultar, como em sua Coronica direi mais inteiramente. E ouve mais o Ifante Dom Affonso, que foi Principe mui honrado, e de grande estima, e teve neste Reino boas Villas, e Castellos, e terras, e foi cazado com Dona Violante, filha do Ifante Dom Manoel de Castella, e da Ifante Dona Costança Daragão, de que houve um filho barão, e tres filhas, que foram grandemente cazadas em Castella, de que na Coronica del-Rei Dom Diniz farei mais larga declaração; e assim houve mais El-Rei Dom Affonso da Rainha Dona Breatiz a Ifante Dona Branca, que sendo mui moça, foi recebida por Senhora do Moesteiro de Lorvão, assi como o fora a Rainha Dona Thareja, sua tia que nelle jaz, e o reformou, como já tenho dito, e depois do falecimento del-Rei Dom Affonso seu pai, ella foi recebida por Senhora das Olgas de Burgos, onde sem cazar faleceo, e ahi jás sepultada; e della porém se acha que um Cavalleiro dito o Carpiteiro houve um filho, que houve nome Dom João Nunes do Prado; e este foi Cavalleiro da Ordem de Calatrava, e depois foi Mestre della, quando Dom Garcia Lopes, que era Mestre, foi por seus desmerecimentos privado de Mestre. E com tudo esta Ifante Dona Branca foi Princeza de mui louvadas virtudes, e teve em Castella boa terra, e neste Reino boa fazenda, porque ella foi senhora de Montemór-o-Velho, por doação del-Rei seu pai, que em seu testamento lhe leixou mais dez mil livras, que são quatro mil cruzados, e assi foi senhora de Campo Maior, que El-Rei Dom Diniz seu irmão lhe deu em sua vida, e El-Rei Dom Affonso deste nome o Decimo de Castella, seu avô tambem lhe leixou em seu testamento muito dinheiro, e alguns dizem que ella jás em Lorvão, mas eu vi Cartas e Provisões, que ella nos derradeiros dias de sua vida passou para Portugal, feitas dentro no Moesteiro das Olgas de Burgos, onde tambem recolheo algumas filhas do Ifante Dom Affonso de Portugal seu irmão. E assi houve mais El-Rei Dom Affonso a Ifante Dona Costança sua filha, a qual a Rainha Dona Breatiz sua madre levou comsigo a Sevilha, quando foi ver El-Rei Dom Affonso seu pai, e lá faleceo, e foi trazida a Alcobaça, onde jás sepultada. E houve mais um filho bastardo, que houve nome Dom Fernando, que foi Cavalleiro da Ordem do Templo, e jás sepultado em S. Bras de Lisboa. CAPITULO V _Das terras e Lugares que se acrescentaram a Portugal por este casamento_ Pelo cazamento del-Rei Dom Affonso com a Rainha Dona Breatiz muitas Villas, e terras do Reino de Castella creceram, e se ajuntaram a este Reino de Portugal, e destas as que são na Comarca de Riba Dodiana, a saber Moura, Serpa, Mourão, Noudar, Olivença, Campo Maior, e Ouguela, direi na Coronica del-Rei Dom Diniz, porque em seu tempo elle por concordias, e por escambos as houve, e depois atégora sempre pacificamente, e sem contradição foram, e são pussuidas por a Coroa de Portugal, mas porque é claro, e mui notorio que por bem do dito cazamento, ainda creceram mais ao Reino de Portugal, o Reino do Algarve; de que este Rei Dom Affonso nova, e primeiramente se intitulou, e por cujo respeito em ladeo a borla dos Castellos ás Quinas de Portugal, como atraz já toquei, para dizer os principios que teve, para boa declaração dos que esto virem farei meu fundamento um pouco mais alto, que será verdadeiro, e breve, como se segue. El-Rei Dom Fernando de Castella deste nome o segundo, depois de ter pacificos os Reinos de Castello, e de Lião, que nelle a segunda vez se ajuntaram, ganhou dos Mouros a Cidade de Cordova, na era de mil e duzentos e trinta e cinco annos, (1235) na qual tomada foi com El-Rei Dom Fernando Dom Payo Correa, natural de Portugal, Mestre da Ordem Daviz, que é a de San-Tiago em Castella, por mui principal e de grande Caza, e mui esforçado guerreiro contra os imigos da Fé, e porque El-Rei Dom Fernando desejou muito de cobrar a Cidade de Sevilha, e assi a terra Dandaluzia, que toda era de Mouros, tornando-se para Castella leixou por Fronteiro contra ella Dom Payo Correa em São Lucar Dalbayda, e um Dom Rodrigo Alveres das Asturias, em Alcalá da Guardara, donde com muitas gentes que tinham, e com a guerra aturada, que faziam, poseram a Cidade de Sevilha em tanta estreiteza que o Rei della lhe deu gram soma de ouro, por tregoa de um anno, qua os ditos Freires lhe outorgaram, dentro do qual os Mouros com fundamento de se proverem por muitos annos, semearam todo o pão, e sementes que tinham de que esperavam haver novidades, com as quaes recolhidas lhes pareceo que se segurariam, e manteriam por vinte annos, ainda que nelles fossem guerreados, e cercados, o qual os ditos Fronteiros notificaram logo a El-Rei Dom Fernando, e o avizaram, que para ter esperança de cobrar em breve a Cidade antecipasse logo a guerra contra os Mouros, ou a colheita das ditas novidades para si mesmo, o qual logo El-Rei satisfez, e com grande poder, que ajuntou por mar, e por terra, veo cercar a Cidade, e depois de estar dezaseis mezes sobre ella, com cerco bem afrontado a tomou, ca se deu por partido, com segurança das vidas, e fazendas em dia de São Clemente, vinte e dous dias de Novembro, na era de mil duzentos quarenta e oito annos, (1248) treze annos depois da tomada de Cordova; e o dito Rei Dom Fernando, por mais segurança da terra, não sahio mais de Sevilha, e ahi faleceo no anno de mil duzentos e cincoenta e dous, tres annos e meio depois da tomada de Sevilha, e ahi jás sepultado.[1] E foi logo alevantado, e obedecido por Rei de Castella, e de Lião, El-Rei Dom Affonso seu filho, sogro deste Rei Dom Affonso Conde de Bolonha; e o meio tempo que houve antre a tomada de Cordova, e Sevilha, e em que o Mestre Dom Payo Correa, era Fronteiro em Andaluzia contra os Mouros, elle guerreando e correndo as terras dos imigos, que eram a sua frontaria conjuntos, entrou pela Lusitania junto do campo Dourique, que dentro era da conquista de Portugal, Reinando ainda Dom Sancho Capello, e por força de armas o dito Mestre tomou em desvairados tempos as Villas de Aljustrel, e de Mertola, que eram de Mouros, as quaes a requerimento do dito Rei Dom Sancho, e por mandado del-Rei Dom Fernando de Castella, seu primo com Irmão, foram entregues ao dito Rei Dom Sancho por pertencerem a Portugal, o qual por sua devação, e pelas almas de seu pae e de sua mãi segundo diz em sua doação, e assi por comprir ao dito Mestre Dom Payo Correa, que era seu servidor, as deu logo á Ordem de San Tiago, cujas hoje são. [Nota de rodapé 1: Está beatificado por Santo.] CAPITULO VI _Que fundamento houve para o Mestre Dom Payo Correa começar de conquistar o Algarve, que era dos Mouros_ Depois que o Mestre Dom Payo tomou estes logares da conquista de Portugal, até se ganhar o Algarve, passaram dous tempos em que reinaram dous reis de Castella, a saber o dito Rei D. Fernando, em cujo tempo o dito Mestre tomou primeiramente Tavilla, e Silves e alguns outros Lugares do Algarve, e apoz elle Reinou o sobredito Rei Dom Affonso seu filho, que reinando em Castella depois de fazer sua doação para sempre a El-Rei Dom Affonso Conde de Bolonha seu genro, e a Dom Diniz, seu filho se ganharam todolos outros Lugares do Algarve, em que tambem foi o dito Mestre como Vassallo, e Compadre, que era do dito Rei Dom Affonso Conde de Bolonha, e foi por esta maneira. Quando o Mestre Dom Payo Correa ganhou dos Mouros Aljustrel, como é dito, se acha, que estando ainda no dito Lugar, elle como bom Cavalleiro, e catholico guerreiro, desejando conquitar esta parte do Algarve, que confinava com Portugal, que toda era de Mouros, para saber se o poderia fazer, e como o faria, teve concelho com seus Cavalleiros, em que não achou conforme acordo, assi porque alguns contrariavam a empreza, e passagem da terra do Algarve, como porque era mui povorada, e os Mouros della tinham pelo mar seu grande soccorro e ajuda Dafrica. Mas o Mestre, cujo coração era já favorecido da vontade de Deos, prepoz entender na conquista, e não a leixar, e para esso falou apartado com Garcia Rodrigues, Mercador, que de contino tratava neste Algarve com os Christãos, e com os Mouros suas mercadorias, e secretamente lhe disse que seu desejo era com a ajuda de Deos, e por seu serviço cobrar dos Mouros esta terra do Algarve se podesse, para que então havia singular disposição pelo desvairo, e discordia em que sabia que estavam os Reis, e Senhores, que os senhoreavam, mas que o não commettia porque não sabia, nem tinha quem soubesse as entradas, e caminhos da terra, e por tanto lhe rogava pois elle esto tudo sabia que lhe dicesse seu parecer verdadeiro, como delle por Christão, e bom homem confiava. E Garcia Rodrigues, em que havia bom espirito, lhe deu para esso tão bom concelho, e tanto esforço, e tal aviamento, que o Mestre apartou logo alguns seus corredores por maneira dalmogavaria, para que fossem adiante, os quaes partiram Daljustrel, e passaram á terra pela Torre Dourique, e andaram de noite mui attentadamente por os Mouros não aventarem delles alguns sentimentos; e o primeiro Lugar a que chegaram foi á Torre Descoubar, que por estar despercebida, e sem algum receo de Christãos prouve a Deos, que sem muita força, nem perigo foi logo tomada, donde enviaram logo recado ao Mestre, o qual não com menos alegria, que pressa fez prestes seus Cavalleiros, que nas armas trazia assás costumados, e bem ensinados, com que logo partio, e com suas guias que levava, chegou á dita Torre, que era tomada, e dahi sem muita detença cobrou mais o Lugar Dalvor, que é antre Silves e Lagos, e destes Lugares ambos depois de serem de Christãos se fazia grande guerra aos Mouros, que estavam em Silves, e nos outros Lugares comarcãos. Sentindo-se os Mouros do Algarve mui perseguidos, e assás denificados do Mestre, elles sobre consultação, que antre si fizeram, lhe commetteram, que selle quizesse lhe dariam o Lugar de Cacella junto com Tavilla por os Lugares Destombar, e Alvor, que tinha tomados, e a conciração, que os Mouros tiveram foi dos Lugares tomados, por serem no meo do Reino, e mais juntos do Cabo de São Vicente, onde a terra era então mais povorada se podia fazer, e fazia mais dano, que de Cacella, que era mais no fim da terra, e principalmente junto com Tavilla, que por ser Lugar forte, e de grande povoração os Mouros, e visinhos, e moradores delle poderiam mais facilmente lançar os Christãos, do qual partido, e escambo prouve muito ao Mestre, que logo entregou aos Mouros os Lugares tomados, e cobrou para si Cacella, que era Lugar forte, e bom, onde se fez logo prestes, e sahio com suas gentes para ir cercar, e tomar Paderne. E como quer que até li os Mouros eram antre si em grandes desconcertos, como atraz se disse, porém á necessidade, e perigo em que a ida do Mestre os poz, os fez logo amigos, e concordes para com iguaes corações defenderem suas pessoas e terras, pelo qual sabendo os Mouros de Farão e Tavilla, e assi os dos outros Lugares de redor, como o Mestre era fóra de Cacella, para correr, e guerrear sua terra, avisaram tambem os de Loulé para que todos no dia seguinte tivessem ao Mestre o passo, e pelejassem com elle, os quaes ao outro dia sobre este acordo se ajuntaram, e partindo foram dormir contra a serra a um logar que dizem o desbarato, e deste ajuntamento, e acordo não sendo sabedor o Mestre passou de noite mui secretamente por Loulé sem ser sentido, seguindo seu caminho direito, que vem para Tavilla, porque as suas escutas que iam de diante sentiram os Mouros naquelle lugar onde jaziam, o Mestre não quiz mais abalar, e ali de noite se deteve, e ao outro dia, como foi manhã o Mestre com sua singular, e costumada destreza de guerra ordenou suas gentes em batalhas, e guiados de sua bandeira, que levavam tendida não andaram muitos passos que logo não houveram vista dos Mouros, que jaziam em um valle escuro, os quaes vendo a pouca gente dos Christãos em comparação da muita sua que tinham, foram mui alegres, ca tiveram grande esperança de haverem victoria. E o Mestre sem mais detença rijamente deu nelles, em que logo achou grande esforço, e mui perigosa resistencia, pelo qual antre todos se travou mui crua e bem ferida batalha, em que a victoria por grande espaço esteve em balança, mas em fim não podendo os Mouros já soffrer aos Christãos nem ás mortes, e feridas, que de suas mãos recebiam, volveram-lhe as costas, e com desacordada fogida, cada um procurou de salvar sua vida. Nesta batalha foram dos Mouros muitos mortos, e feridos, e os que escaparam acolheram-se a um Lugar, que chamam _o Furadoiro_, que vem donde foi esta peleja caminho da fonte que ora dizem do Bispo, e porém os Christãos por a qualidade da fronta não ficaram sem sua parte de dano, mas este não acho escrito quanto seria, sómente que o Mestre e os seus pelo grande trabalho, e muito cançasso da batalha não seguiram o alcanço dos Mouros, e se recolheram. CAPITULO VII _Do acordo que os Mouros fizeram contra o Mestre, e como houveram com elle batalha em que foram vencidos_ Os Mouros de toda a terra, por este destroço, e desbarato, que houveram mostraram muito nojo, e grande tristeza, em especial os de Tavilla, porque tinham imigos tão fortes junto comsigo, os quaes naquella ora juntos em seu concelho diceram: «Estes christãos não temem, antes nos menos prezam, e não é sem rezão, porque ou por nossa muita fraqueza, ou por nossa grande dezaventura sempre somos delles vencidos, mas agora porque elles eram seguros, e despercebidos pela victoria, que hontem de nós houveram, cuidam já que não ha em nós esforço, nem acordo para nossa vingança, ajuntemo-nos outra vez, e sem medo os vamos commetter e sem duvida nós os desbarataremos, e com sua perda os lançaremos da terra, que é nossa». E no outro dia o Mestre, que destas consultas, e ardis, não foi nem podia ser avisado, partio do lugar, onde fora a batalha para Cacella, e vindo por seu caminho direito, que dizem _o Almargem_, junto do qual os Mouros estavam prestes com seu ardil de os saltearem, e o Mestre já não trazia toda sua gente, que salvou da peleja, porque alguma leixara no monte, em que agora é Crasto Marim, para dahi recolherem alguns seus, que passavam pela ribeira, e porém em chegando ao logar do Salto, onde os Mouros os esperavam, elles sahiram a elle tão de supito, e o commetteram com tantas gritas, e forças, que o poseram em muita torvação, e perigo, pela qual conveo ao Mestre e aos seus por força se recolherem a um monte alto, que é junto de Tavilla, a que depois chamaram _a Cabeça do Mestre_, donde pela fortaleza do lugar se defendiam dos Mouros milhor, e os ofendiam com mais sua aventagem. Mas comtudo elles não afrouxavam os Christãos, antes por todalas maneiras de fazer mal os combatiam, trabalhando com todas forças por lhes cobrar o monte, que os salvava, e com tanta fortalesa afrontavam o Mestre, que se não sobreviera a noite que os apartou elle, e os seus se despunham, e estavam em mortal perigo, e os Mouros apartados do combate lançaram-se ao pé do monte alongados da vista dos Christãos, logo com determinação de ao outro dia tornarem á peleja, mas elles neste primeiro proposito não perseveraram, porque praticando antre si sobre as gentes que ao Mestre logo viriam em seu socorro, e o perigo, que nesso corriam alevantaram-se, e foram-se tristes para os logares donde partiram, o que assi fizeram sem vista nem sabedoria do Mestre, o qual na noite passada já tinha avisada sua gente, que leixara em Cacella para que e viessem socorrer, como logo vieram com fundamento de dar batalha aos Mouros se o esperassem, quando soube que eram partidos alegre, e a seu salvo se foi para Cacella. CAPITULO VIII _Como houve treguas antre os Christãos, e Mouros, e com que fundamento cada uns o outrogaram, e como foi a morte dos sete Cavalleiros Martyres, e o Mestre tomou Tavilla_ Os moradores de Tavilla, e assi os Mouros das outras Villas seus comarcãos, vendo-se perseguidos, e mal tratados do Mestre, por seus meos que antre si tiveram concordaram, que por quanto a este tempo estavam já cerca do mez de Junho em que haviam de recolher seus pães, e dahi a pouco se achegava o outro de seu alacil para secarem e aproveitarem suas passas, e fruitas, era bem de procurarem poer com o Mestre tregoas até o São Miguel de Setembro, que vinha, no qual tempo acabariam inteiramente de recolher suas novidades, e dahi por diante teriam milhor disposição para lhe fazer a guerra, e o lançar fóra da terra. Da qual tregoa que pelos Mouros foi requerida, e apontada prouve muito ao Mestre, e lha deu, de que fizeram suas certidões com fundamento, que não sómente neste tempo daria descanço aos seus dos muitos trabalhos que tinham passados, mas que ainda nelle se perceberia das mais gentes, que para o dezejado fim de sua empreza lhe eram neccessarias. E sendo por bem desta tregua os Christãos, e os Mouros de uma parte, e da outra seguros, D. Pedro Rodrigues, Commendador mór de San-Tiago, que era na companhia do Mestre dice aos outros Cavalleiros, que por seu desenfadamento, pois estavam em tregoa fossem com suas aves á caça ao lugar das Antas, que era terreno de Tavilla, e está dahi tres legoas. Ao que foi o Mestre como pessoa mui prudente, contrairo, dizendo-lhe que escusassem em tal tempo sua ida, porque os Mouros, por suas condições, não eram menos ciosos da terra que das molheres, e por esto com qualquer paixão destas sendo homens sem fé, e sem verdade lhe poderiam fazer dano, que custaria depois mui caro. A que o Commendador-mór tornou dizendo, que pois estavam com os Mouros em treguas delles tão desejadas e requeridas, que não havia rezão para elles se recearem, quanto mais que elles para segurar esse pejo iriam á caça de paz, e de guerra. Com esta confiança o Commendador, e cinco outros Cavalleiros com elle a cavallo se partiram de Cacella, e trazendo o caminho direito de Tavilla, passaram pela ponte, e entraram, e seguiram pelo meio da praça da Villa, e chegaram ás Antas, lugar da caça, que é uma legoa da Villa a cerca da ribeira, onde começaram de caçar, e haver prazer sem alguma maginação nem sospeita da morte, que se lhes aparelhava, porque os Mouros de Tavilla quando daquella maneira viram passar os Christãos, havendo que era em seu manifesto desprezo, receberam por esso grande dor, porque sua vista lhes fizera viva lembrança das mortes, e males, que delles já muitas vezes tinham recebidos, e diceram antre si: «Certamente os homens, que somos, que sofrem tanta mingua, e tanto desprezo quanto estes Christãos com soberba nos fazem são mais que mortos, e não tem siso, vergonha nem coração, assi passam por aqui os Christãos nossos imigos tão seguros como se fossemos bestas, e elles senhores da nossa Villa». Sobre as quaes palavras de murmuração se ajuntaram muitos com grande honra, e determinaram ir logo como foram com grande ira, e com passos mui apressados sobre os Christãos, os quaes andano á caça, quando viram tantos Mouros, ca a grande sua pressa, e alvoroço com que iam, em cazo que ainda fosse de longe logo presumiram a má, e indinada tenção, com que vinham, pelo qual leixadas as aves, e seu officio ocioso se ajuntaram, e diceram: «Claro é que estes Mouros vem sobre nós, e o principal remedio é o de Deos, que por sua piedade nos queira esforçar, e soccorrer, e apoz este concelho seja que nos percebamos, e esperemos como Cavalleiros qualquer afronta, que nos vier, e prazerá a Deos, que pois somos Christãos, que não sómente nos defenderemos, mas que com sua ajuda os venceremos, e quando a ventura for tão contraira que não possamos salvar as vidas, ao menos vínguemol-as primeiro com mortes destes, e hajamol-as por bem empregadas em seu serviço». Com esto enviaram logo ao Mestre um mensageiro com grande trigança pedindo lhe que os soccorresse, e com aquella pressa, e deligencia que em tão breve tempo foi possivel, e para elles em tanto se defenderem e pelejarem, fizeram um palanque de paos de figueiras velhas a que se recolheram, onde os mouros com muita furia os vieram logo commetter, em que acharam muito esforço, e grande resistencia, e não tão leves como elles cuidavam, e estando os Christãos nesta afronta acertou-se, que Gracia Rodrigues, o Mercador, com que o Mestre se aconcelhara na vinda do Algarve, como atraz dice, indo de Farão para Tavilla com suas cargas de mercadorias segundo costumava, quando vio o desassosego, e ajuntamento dos Mouros seguio o fio delles para saber o que era, e quando vio a peleja, e grande perigo em que os Christãos estavam, volveu rijamente onde deixara suas cargas, e dice aos seus servidores: «I vos e leixai essas arrecovas, e tomai essas mercadorias que partireis antre vós, ca se eu viver não me falecerá de que viva, e se morrer esso me basta, pois é em serviço de Deus». E com esto acabado, arremeteo, e se lançou ao palanque, e dentro delle se ajuntou com os Christãos, e que ajudou e esforçou quanto a um bom homem era possivel, onde por grande espaço se defenderam, e pelejaram, dando e recebendo muitas feridas, e assi eram afrontados, e por tantas partes combatidos, que um não podia dar fé do que o ouro fazia, e em fim por as forças dos Christãos serem já de grande trabalho vencidos, o seu palanque foi roto, e entrado, e elles todos sete por desfalecimento da virtude corporal cortados de mortaes feridas acabaram as vidas como Cavalleiros, e bons Christãos, o que não foi sem publica vingança de suas mortes, de que os corpos dos Mouros sem almas déram alli verdadeiro testemunho. Durando a peleja dos Christãos chegou seu recado ao Mestre que era em Cacella, donde com grande trigança logo partio com desejo de os soccorrer, porque bem sabia que os Cavalleiros eram taes, que sem medo, nem outro seu desfalecimento, ou haviam de viver, ou morrer, e seguiu o caminho porque elles vieram, e sem contradição, nem defeza dalguma pessoa entrou pela Villa, e praça della, e tão intento, e acezo ia no dezejo que levava de soccorrer aos Chrystãos, que passando por ella não lhe lembrou, que dessa vez livremente, e sem perigo a podia tomar se quizera, e quando chegou ás Antas, onde achou, e vio todolos seus Cavalleiros mortos, anojado e mui iroso por tão feio feito houve com os Mouros, que ainda topou mui crua peleja, onde matou tantos, que os ossos delles foram depois por longos tempos ali vistos em grande soma, e aos outros, que fogiram, foi seguindo o alcance fazendo nelles grande estrago até á Villa, cujas portas os Mouros acháram fechadas, porque os visinhos, e gentes que em ella ficaram, quando viram passar o Mestre ao soccorro dos Cavalleiros a que ia, bem entenderam qual seria sua determinação como soubesse parte do cazo. E por esso cerraram bem suas portas, que não quizeram abrir aos seus que vinham fogindo, e sómente lhe abriram um postigo pequeno, e escuro, que está contra a mouraria, sobre que deu o Mestre e os ferio tão rijo, e com tanta braveza, que não tendo elles acordo para se defenderem, nem de cerrar a porta entrou por ella o Mestre de volta com elles, e cobrou a Villa, e apoderou-se della dentro da qual, e fóra della o Mestre, e os seus fizeram nos Mouros grande estrago. E era neste tempo senhor de Tavilla Abenfalula, Mouro que não se sabe se morreo nestas pelejas, se ficou no lugar, como outros alguns ficaram. E esta batalha, e os Cavalleiros mortos, e a Villa tomada foi tudo a nove dias de Junho de mil e duzentos e quarenta e dous (1242). E o Mestre como de todo foi apoderado da Villa, e a leixou com boa segurança, com alguma gente darmas tornou ás Antas onde os Cavalleiros mortos jaziam, e chorando por elles muitas lagrimas, e dando grandes gemidos e tristes sospiros os mandou apartar dantre os corpos dos Mouros que elles mataram, e cheos todos de muito sangue das grandes feridas de que morreram, os fez levar á Villa, e na mesquita, que o Mestre fez consagrar em Egreja da Envocação de Nossa Senhora mandou logo fazer um grande Moimento de pedra, em que se pintaram sete Escudos, todos com as vieiras de San-Tiago, e nelles os seis Cavalleiros, e Gracia Rodrigues com elles foram todos sete sepultados, e seus nomes são estes, Pedro Rodrigues Commendador mór, Mem do Vale, Durão Vaz, Alvaro Gracia, Estevam Vaz, Beltram de Caya, e o Mercador Gracia Rodrigues, cujos corpos foram depois havidos em grande reverencia, e devação, e piedosamente não era sem cauza, porque como Martyres espargeram seu sangue, e como fieis Catholicos perderam as vidas pela Fé de Jesu Christo N. Senhor. CAPITULO IX _Como o Mestre tomou Selir, e Alvor, e a Cidade de Silves, porque partidos a leixou dos Mouros_ O Mestre Dom Payo Correa por tomar Tavilla dos Mouros, como é dito, por ella ser Cabeça, e a principal cousa do Algarve, foi mui alegre, e deu por esso muitas graças a N. Senhor, e porque sentio que elle com sua graça, e ajuda nesta sua empreza sempre o favorecia, não quiz estar por longo tempo ocioso, mas fez prestes suas gentes, e depois de leixar Tavilla em boa guarda, e segurança, sahio della, e foi sobre Selir, e o tomou por força, e assi Alvor outra vez, dahi foi logo cercar Paderne, que era Castello mui forte, e tinha boa Comarca, que é antre Albofeira, e a Serra, e estando em cerco sobre elle apartou de si algumas gentes, que mandou ao termo de Silves, onde tomaram outra vez a Torre Destombar, que já fora sua, e Abenafaam, que era Rei daquella terra estava em Silves, quando soube que os Christãos tomaram Estombar, crendo que seria hi o Mestre, ajuntou tambem as mais gentes que pode, e sahio com proposito de vir sobre elle, e dar-lhe batalha. Da qual cousa sendo o Mestre logo avizado alevantou o cerco de sobre Paderne, e por caminho desviado se veio lançar sobre Silves, e o Rei Mouro indo para Estombar, como soube que na terra não havia outras gentes, salva as que tomaram, e defendiam, receando-o ser acommettido dalgum ardil do Mestre, fez logo volta com grande trigança sobre Silves, onde o Mestre lhe tinha feita cilada, que sabendo de certo recolhimento que o Rei Mouro havia de fazer lhe tomou todalas portas da Cidade, em cada uma das quaes pôs gentes assás que as guardasse, e El-Rei Abenafaam, quando ao recolher achou embargo, e resistencia em todalas portas, commetteo de por força entrar pela porta, que dizem _Dazoya_, que lhe pareceo mais despejada, que todalas outras, onde se encontrou com o Mestre, que de fóra tinha a guarda della. E em um campo junto da Villa em que está a Egreja de Santa Maria das Martes houveram ambos mui travada, e ferida peleja, em que o Mestre pola pouca gente que comsigo tinha se vio em grande pressa, porque os Mouros eram muitos, e mui juntos, e feriram-no mui rijamente, e punham todas suas forças por cobrar a entrada da porta, que o Mestre defendia, e procuravam os Mouros de se meter debaixo da Torre Dazoia que é saída em arcos para fóra, por tal que os Mouros de cima os defendessem, mas não o poderam fazer, e porque os Mouros de dentro quando viram o Rei Mouro á porta, e com grande avantagem de gente sobre o Mestre, sahiram alguns cuidando de o meter, e salvar por ella, e ao recolher, que quizeram fazer, foram dos Christãos tão apertados, que de volta se meteram com elles dentro na Cidade, e não sem crua peleja, e grande perda de homens de uma parte, e da outra, que ali ficaram mortos. E segundo se diz, mais Christãos morreram nesta entrada, que em outro Lugar do Algarve que se tomasse, e El-Rei Mouro vendo que a Cidade era já por aquella porta entrada, andou correndo a cavallo em torno della experimentando todolos lugares convenientes para sair, e quando não achou remedio quiz-se lançar por um postigo da treição do alcacer, que era seu apozentamento, onde morava, e porque o achou empedido commetteo outra porta em que tambem achou contradição, pelo qual já como desesperado da honra, e da vida ferio apressadamente seu cavalo das esporas, e fogio, e passando por um pego do rio afogou-se nelle, onde depois o acharam morto, e deste cazo accidental chamam áquelle Lugar _o pego de Benefaam_. Os Mouros que na Cidade ficaram vivos, se acolheram ao alcacer, e mostravam suas forças para o defender, mas o Mestre não o quiz combater, antes lhes deu segurança, que vivessem na Villa se quizessem, e aproveitassem suas Cidades, e com obediencia, e tributos lhe conhecessem aquelle Senhorio, que conheceram a El-Rei Mouro, e elles Mouros assi o concordaram, e foram do partido contentes, e esta maneira se diz que o Mestre sempre teve nos Lugares do Algarve, que tomou, cujos alcaceres não combateo, e deu segurança aos Mouros porque as Villas fossem milhor aproveitadas, e senão despovorassem, e não tardou muito que nesta cidade foi fundada Sé, e Egreja Catedral, e Bispo della a que foi dada toda a jurdição Ecclesiastica daquelle Reino. CAPITULO X _Como o Mestre tornou a cercar Paderne, e o tomou, e do fundamento que houve para El-Rei D. Affonso de Portugal haver para si o Reino do Algarve, e se intitular delle, e com que obrigação lhe foi dado_ Tanto que o Mestre pôs em Silves suas gentes, que a guardassem, e defendessem, e a proveo das outras cousas que a ella eram necessarias, se partio, e tornou a poer o cerco que alevantara de sobre Paderne, e porque logo os Mouros se não quizeram dar a bom partido que lhe cometiam, elle os combateo, e por força tomou a Villa e o alcacere sem os receber a concordia, nem algum partido de piedade, antes por dous bons Cavalleiros que lhe ali mataram da Ordem, mandou que todolos Mouros da Villa andassem, como andaram á espada, e a gente desta Villa de Paderne, cujos grandes edeficios ainda parecem, alguns dizem, por sua má disposição se mudou depois á Villa de Albofeira, que o Mestre Daviz depois tomou como adiante vai, e atraz deixei apontado. Como a Conquista do Algarve que primeiramente fez D. Payo Correa Mestre de San-Tiago de Castella, por nação e linhagem Portuguez, foram em dous tempos, a saber, em tempo del-Rei D. Fernando de Castella, e depois em tempo del-Rei Dom Affonso seu filho, e agora declaro que os Lugares, que até qui se ganharam pelo dito Mestre foram em tempo del-Rei Dom Fernando, e antes da tomada, e cerco de Sevilha, porque claramente consta, que este Mestre de San-Tiago era com El-Rei ao tomar della, e para tal feito foi havido, e estimado por mui principal, e para feitos darmas mui asinado, e estes Lugares do Algarve estiveram da mão do Mestre á obediencia del-Rei Dom Fernando até o tempo del-Rei Dom Affonso seu filho, que como Reinou teve grande afeição ao dito Mestre, e lhe deu de si muita parte, e o mandou tornar ao Algarve, para nelle estar por segurança dos Lugares que ganhara, porque ainda nelles havia muitos dos Mouros. E neste tempo era já cazado este Rei Dom Affonso Conde de Bolonha com a Rainha Dona Breatiz, filha do dito Rei Dom Affonso de Castella, e a maneira porque depois seu marido, e ella houveram este Reino do Algarve é a seguinte. El-Rei Dom Affonso Conde de Bolonha, sendo assi cazado com a filha del-Rei de Castella, sabendo que o Mestre de San-Tiago tinha ganhado dos Mouros as ditas Villas, e Lugares do Reino do Algarve, que eram da conquista, e Senhorio de Castella, e estavam pela parte do Campo Dourique mui conjuntos ao Reino de Portugal, e vendo que contra os Mouros Despanha já não tinham livre alguma propria conquista dezejando acrecentar em seu Reino, e em sua honra, e assi por ter em que servir a Deos em semelhante guerra piadosa, dezejou para si esta terra, sobre a qual falou com a Rainha Dona Breatiz sua molher, e sendo ambos em um dezejo e tenção conformes, ella por seu prazer, e por concelho de seu marido, foi logo a El-Rei D. Affonso de Castella, seu pai, que estava em Toledo, a qual elle recebeo com muita honra, e alegria, porque como aigumas vezes já dice sempre por palavras, e obras, elle mostrou que lhe tinha muito amor, e grande dezejo de lhe fazer bem, e havendo depois tempo, e lugar para o cazo conveniente, a Rainha com as palavras, e rezões que seu dezejo e necessidade lhe aprezentaram, dice a seu pai a cauza principal de sua ida, pedindo-lhe muito por mercê, em nome del-Rei seu marido, e seu, que désse a elles, e a seus netos, que cada dia creciam a Conquista do Reino do Algarve, e assi os Lugares, que por o Mestre de San-Tiago eram já nelle tomados, e porque o Reino de Portugal, que tinham, era para elles muito pequeno, e a este tempo o Ifante Dom Diniz, que a poz seu padre Reinou, e assi outros Ifantes seus filhos já eram nacidos, e os Lugares de riba Dodiana, e de riba de Coa, ainda não eram de Portugal; porque depois se houveram, como nesta Coronica, e na del-Rei Dom Diniz ao diante se dirá. Deste requerimento prouve muito a El-Rei Dom Affonso, que por Reaes condições que muitos lhe entrepetraram a vaidades, e desordenada cobiça de gloria foi o mais nobre Rei de Castella, e querendo em todo satisfazer á Rainha sua filha, lhe mandou logo passar sua Carta patente, e selada de seu selo de chumbo, por a qual fez solenne, e firme doação ao dito Rei Dom Affonso Conde de Bolonha, seu genro, e ao Ifante D. Diniz seu filho, e a todolos filhos, e filhas que delles decendessem para sempre do Reino do Algarve com seu inteiro Senhorio, e com todolos Lugares delles ganhados, e por ganhar, com tal condição que o sobredito Rei de Portugal, e seus filhos, fossem obrigados a dar de ajuda ao dito Rei Dom Affonso de Castella em sua vida sómente cincoenta Cavalleiros, quando lhos requeressem, contra todolos Reis Despanha, e além desta doação El-Rei de Castella mandou fazer outras Cartas para o Mestre Dom Payo Correa, e para outros grandes Cavalleiros, que com elle andavam no Algarve, porque lhe notificou esta doação, que tinha feita, e lhes mandou que a comprissem, e porque El-Rei Dom Affonso folgava com a vista, e conversação da Rainha sua filha pola grande afeição que a ella tinha não lhe deu lugar que logo se tornasse a Portugal como ella quizera, pelo qual elle mandou as sobreditas Provisões a El-Rei Dom Affonso seu marido, que como as recebeo alegre com tamanha, e tão honrada, e tão dezejada doação, notificou tudo ao Mestre Dom Payo Correa, a que desso prouve muito, porque tinham antre si muito conhecimento, e grande amizade. E El-Rei se intitulou logo de primeiramente Rei de Portugal, e do Algarve, e ao Escudo dos cinco Escudos de Portugal, que seu bisavô El-Rei Dom Affonso Anriques primeiro tomou, e trouxe elle por titolo, e posse deste Reino em adeo Orla, e borladura dos Castellos douro em campo vermelho, como depois até gora sempre os Reis de Portugal trouxeram, e trazem, segundo atraz brevemente dice. CAPITULO XI _Como El-Rei Dom Affonso de Portugal depois de lhe ser dado o Algarve, tomou aos Mouros a Villa de Farão, em que foi em sua ajuda o mestre D. Payo Correa_ E por El-Rei Dom Affonso não estar ouciozo de fazer alguma parte verdadeira a tenção com que pedira esta terra, mandou com grande diligencia preceber a gente de seu Reino, com a qual junta, e para logo ir ao Algarve, elle a gram pressa se foi a Beja, e da hi a Almodovar do Campo Dourique, e passou a serra, pelas Cortiçadas, e da hi levou seu caminho direito para a Villa de Farão, que era do Senhorio de Miramolim, que era Rei de Marrocos, e tinha a Villa por elle um seu Alcaide mór, que chamavam Aloandro, que era seu Alxarife, outro Mouro principal dito Abombarram, aos quaes para sua segurança não faleciam dentro grandes percebimentos de muita gente, armas, e mantimentos, e mais no alcacer da Villa tinham uma fusta, que por um arco, que era feito no muro a lançavam ao mar quando queriam, e nella enviavam seus recados ao seu Rei, quando delle, e de suas ajudas tinham alguma necessidade, e por esta cauza, e porque a Villa era mui forte os Mouros della estavam muito esforçados, e com pouco medo dos Christãos, e o Mestre Dom Payo Correa, que por prazer del-Rei de Castella era já Vassallo del-Rei Dom Affonso de Portugal, sabendo de sua ida o foi com suas gentes aguardar na Villa de Selir antre Loulé, e Almodovar, e ali se viram, e o Mestre lhe fez sua devida reverencia, e acatamento, e El-Rei a elle muita honra, com sinaes de grande amor, porque eram Compadres, e dali com suas gentes concertadas foram logo cercar a Villa de Farão, sobre que pozeram fortes estancias, e repartiram seus ordenados combates por esta maneira, a saber, o primeiro combate tomou El-Rei para si no alcacer, e um lanço do muro da Villa até a porta, que agora dizem dos _Freires_, e o segundo combate do Mestre de San-Tiago com toda sua gente, foi desta porta dos Freires com outro lanço do muro até a porta da Villa, e ca um rico homem, e bom Cavalleiro, que havia nome Pedro Estaço, mandou El-Rei dar outro lanço do muro até uma terra que depois chamaram _de João de Buim_, e a este mesmo João de Buim, que era pessoa de grande estima, foi dado outro lanço desta sua terra até o alcacer, onde era o primeiro combate del-Rei. E além destes Capitães aqui nomeados, eram com El-Rei outros Cavalleiros, e pessoas mui principaes do Reino de Portugal, a saber, Dom Fernão Lopes, Prior do Esprital, e o Mestre Daviz, e o Chançarel Dom João Davinhão, e Mem Soares, e João Soares, e Egas Coelho, e outros, e por estes lugares, e lanços mandou El-Rei combater a Villa, ca tão aturadamente o fizeram, que de dia, e de noite nunca os combates, e afrontas cessavam, nem davam aos Mouros algum lugar, e repouzo, e porque perdessem a grande esperança, e ajuda, e socorro, que tinham no mar, El-Rei lha tirou; porque mandou sua frota de Navios grossos estar no mar, e assi ordenou que no canal do Rio se atraveçassem outros Navios fortes, e bem armados, e forrados de couros da banda do mar, por tal, que se por cazo algumas Galés de Mouros viessem contrairas, e entrassem no Rio, que ellas com fogo, ou com outros engenhos não denificassem os Navios dos Christãos, e desta maneira o Lugar ficou cercado em torno por mar, e por terra, pelo qual vendo os Mouros que o mar onde tinham o ponto principal de sua salvação e socorro era de todo impedido, e atalhado, e assi não podendo já sofrer os aficados, e perigosos combates que com grande seu dano sempre recebiam dos Christãos, e que posto que bem, e esforçadamente se defendessem, como faziam, não tinham emfim esperança de se salvarem, ouveram por bem commetter partido, a El-Rei para que sahiram de dentro os sobreditos Alcaides, e Alxarife, que na Villa eram dos Mouros as maiores cabiceiras. E andando elles nestre trato sem amostrarem aos do Arraial, que era acabado, El-Rei foi falando com elles até o alcacer, onde por concerto já antre elles praticado, e prometido, El-Rei foi delles recolhido no dito Castello com os que elle quiz, que seriam até dez Cavalleiros, e como El-Rei entrou, porque assi era corcordado, logo o alcacer foi livre de todolos Mouros que nelle estavam, e se recolheram para a Villa, e por mais segurança, o alcacer foi logo buscado e despejado por aquelles Cavalleiros del-Rei, de maneira, que dentro delle não ficaram dos Mouros salvo os sobreditos Alcaides, e Alxarife, e porque El-Rei por cumprir aos Mouros sua verdade, e para se fazer o trato com mais assecego não deu desta parte ao Mestre de San-Tiago, nem aos outros Cavalleiros, que tinham os combates, e estes achando menos El-Rei, e sabendo que era dentro no alcacer, não sendo certos de sua vida, e segurança, antes vendo, que contra sua vontade, e por seu mal o retinham, foram por esso anojados, e por esse cazo foi no arraial feito grande alvoroço com que (posposto todo o perigo) determinaram os Christãos combater a Villa, que sem embargo da resistencia, e setas, e pedras dos Mouros, que o contrariaram passaram, e ajuntaram-se com os Mouros, e as gentes do Mestre trouxeram logo muita lenha, e outros materiaes ás portas da Villa para com o fogo as queimaram, e entrarem por ellas, e por este dezavizo, de que não sabia a verdade morreram nestes cometimentos, que poderam ser escuzados muitos Mouros, e mais Christãos. El-Rei depois que ouvio os grandes rumores do arraial, e soube a causa delles, logo com grande trigança se sobio em uma torre, e dando-se a conhecer alçou o braço direito, e na mão amostrou a todos as chaves do alcacer, que já tinham a seu serviço, e com esso mandou o Mestre, e a todolos outros Capitães, que logo cessassem de seus combates, e porque já era em concerto com os Mouros, e assi o Alcaide Mouro Abembarram sahio do alcacer, e dice aos Mouros da Villa, que fossem seguros, e não fizessem algum mal aos de fóra, e com esto ficaram todos assossegados, e El-Rei mandou lançar pregões pelo raial que algum Christão não fizesse nojo aos Mouros, posto que antre os Christãos andassem, nem entrassem pelas portas da Villa; posto que abertas as achassem, salvo o Mestre, e outros Capitães, porque estes entrariam com aquelles, que quizessem, e que os outros Christãos estivessem sobre as portas dos combates, e estancias, que lhe foram ordenadas. E o concerto que El-Rei fez com os Mouros foi, que elles Mouros da Villa lhe fizessem, dessem e pagassem juntamente aquelle mesmo foro, e serviço, e todalas outras cousas, que faziam, e pagavam ao seu Rei Amiramolim, e que com elles ficassem todas suas cazas, vinhas, e Cidades assi como dantes as tinham, e que El-Rei os amparasse, e deffendesse assi de Mouros como de quaesquer outras gentes, e nações, que lhe mal, e nojos quizessem fazer, e que aquelles que para alguns Lugares de Mouros se quizessem ir, que livremente com todas suas cousas o podessem fazer, e andassem com El-Rei quando lhe comprisse, e que lhe fizesse por esso bem, e mercê. E por esta maneira cobrou El-Rei a Villa de Farão no mez de Janeiro de mil duzentos e setenta (1270). CAPITULO XII _Como El-Rei D. Affonso cercou, e tomou Loulé, e como a Aljasur tomou o Mestre de San Tiago, e o Mestre Daviz Albufeira, e da declaração que se fez deste nome Algarve, e dos Lugares que agora nelle cabem_ Como El-Rei cobrou a Villa de Farão, como é dito, logo a poucos dias elle, e o Mestre foram com suas gentes cercar a Villa de Loulé, e sem prolongado cerco, ainda que fosse com dano dos Christãas em breve a cobrou; e porque o Mestre de San-Tiago trazia em sua companhia bons Cavalleiros, e mui esforçados, destes se acertavam, que nos combates das Villas, e pelejas dos Mouros que por sua bondade não receavam de commetter, muitos morriam, e havendo El-Rei desso piedade, e sentimento se diz, que em acabando de tomar esta Villa de Loulé dice ao Mestre, que lhe pezava muito de tão bons Cavalleiros como eram os seus, morrerem assi nestes combates, por quanto eram homens singulares, escolheitos, e que o Mestre lhe respondeo. «Senhor não vos anojeis das mortes destes, que acabaram suas vidas em seu proprio officio, e de tanto seu merecimento, pois é em serviço de Deos, e por honra, e louvor de sua Fé, e se o haveis, porque são Cavalleiros eu posso logo fazer outros tantos». E de Loulé cavalgou o Mestre, e correndo a terra dos imigos contra o Cabo, houve avizo certo que muitos Mouros juntos iam a via Daljazur, e uns dizem, que este ajuntamento faziam para com outros consultarem sobre o que fariam por Silves, e Tavilla, e os outros Lugares, que eram tomados, e outros affirmam que iam para uma voda para que eram convidados, e esta parece a cauza, e rezão mais conforme, porque os Mouros Daljazur sahiram a uma legoa a receber os do Cabo, e uns, e outros vinham mais de festa, que de guerra, ca muitos delles foram achados sem armas, e com elles saltou o Mestre de que matou, e cativou os que quiz, e alguns que se quizeram salvar na Villa para que foram fogindo perseguidos do Mestre não tiveram acordo de çarrar as portas, por quaes o Mestre entrou de volta com elles, e tomou o Lugar sem algum partido dos Mouros. E Dalbofeira se acha por mais certa opinião, que em tempo deste Rei foi tomada dos Mouros por o Mestre Daviz Dom Lourenço Affonso, e assi parece rezão, porque elle foi sempre, e é hoje da dita Ordem. E por estes lugares, que dos Mouros se tomaram se acabou de conquistar toda a terra, que nós os Portuguezes chamamos Algarve, mas para deste nome não virem duvidas, e confuzão aos que as Estorias antigas Dafrica, e Despanha lerem, é de saber, que Algarve é nome Arabico, e o Reino, e Senhorio, que os Mouros chamavam do Algarve era mui grande, e de grandes potencias, porque começava no Cabo de São Vicente, e seguia pela costa Despacha até Almiria, e pela banda Dafrica se estendia até Tremecem, em que entravam Fez, e Cepta, e Tangere, que diziam de Benamarim, porque os Lugares, que os Reis de Portugal até agora tem na parte do Algarve daquem már, que é em Hespanha são estes, a saber, Estombar, Alvor, Villa nova de Portimão, Cacella, Paderne, Tavilla, Farão, Loulé, Silves, e Albufeira, Aljazur, e Alcoutim, e Castro Marim, e Lagos, e destes alguns são Lugares novos, que em tempo dos Reis de Portugal novamente depois se fizeram, e reformaram. E destes Lugares do Algarve depois que os El-Rei Dom Affonso houve a seu poder, e Senhorio se acha, que com suas Galés, e outros muitos navios fez sempre de continuo crua guerra aos Mouros Dafrica, que em seus corpos e fazendas recebiam grandes danos e prezas, e El-Rei Dom Affonso por seu grande esforço, e bons feitos, tinha antre os Reis principais Christãos mui louvado nome, pelo qual se acha que o Papa por esta honrada fama del Rei lhe mandou por meo dum Frei Payo, Ministro da ministração dos Freires de San-Tiago rogando-lhe que em remissão de seus peccados, quizesse tomar a Cruz de Jesu Christo contra os Mouros dultra már, que tiranamente tinham a Caza Santa em desprezo da Fé, e da Religião e que El-Rei respodeo, que se El-Rei de França a esta conquista passasse em pessoa, que lhe prometia, que elle tambem com a sua passasse, salvo se alguma outra guerra, ou tamanha necessidade o impedisse, porque o não podesse fazer, e por esso ambos não foram, porque o derradeiro Rei de França, que por recobrar a Caza Santa passou a ultra már, foi El-Rei São Luis de França primo com irmão deste Dom Affonso de Portugal, filhos de duas Irmãs, quando levou comsigo a Rainha Dona Margarida sua molher, e elle, e dous Irmãos seus foram dos infieis prezos, e cativos na grande, e crua batalha, que ouveram com o gram Soldam, junto com Damiata do Egypto, como em outras partes já dice, o que foi muito antes do tempo deste requerimento do Papa, segundo está na Coronica de França, e em outras mais largamente se contem. CAPITULO XIII _Como o Reino do Algarve por divisões que houve foi posto em terçaria de Cavalleiros Portuguezes, e o que sobre esso se fez_ Como El-Rei de Portugal foi em posse pacifica, o Mestre Dom Payo Correa se tornou a seu Mestrado, e deu conta a El-Rei Dom Affonso de Castella de todo o que era passado, o qual para mais firmeza, e maior seguridade das condições com que a El-Rei seu genro fizera sua doação do Algarve, houve por bem, que o dito seu genro as prometesse, e segurasse com menagem, e juramento em sua propria pessoa, para que o dito Rei Dom Affonso de Castella enviou a Portugal com seu poder abastante ao Ifante D. Luis seu irmão, que diceram de Pontes, filho del-Rei Dom Fernando, e da Rainha Dona Joana sua segunda molher, filha do Conde Dom Simão de Pontes, e sobrinha del-Rei Dom Luis de França, o qual álem de tomar del-Rei de Portugal todas as seguridades conforme as condições de sua doação, ainda o dito Ifante para maior seguridade, e mais honesta escuza del-Rei D. Affonso de Castella, para os de seu Reino, que o reprendiam, e acuzavam por tal doação, quiz que todas estas Villas e Castellos fossem, como foram logo entregues a João de Boim, e Pedro Annes, seu filho, Vassallos e naturaes del-Rei de Portugal, que eram pessoas de limpo e nobre sangue de grandes cazas, para que por elles os tivessem de fieldade com menagem de juramento que fizeram, que quando el-Rei de Portugal não comprisse a condição dos cincoenta Cavalleiros, que a El-Rei de Castella em sua vida havia de dar, que elles com suas pessoas, e com as ditas Villas e Castellos servissem a El-Rei de Castella, e comprissem inteiramente tudo o que El-Rei de Portugal era neste cazo obrigado a cumprir. E porque El-Rei de Portugal não foi desta terçaria do Reino do Algarve muito contente, e dice por outros desvairos que houve com Castella sobre partições, e termos dos Reinos, foram estes Reis desacordados de que El-Rei de Castella se sentia mais aggravado, mas por meo da Rainha Dona Breatiz, que como virtuosa, e prudente procurou logo antre elles boa paz, e concordia, vieram logo por Embaxadores a Portugal o dito Dom Payo Correa Mestre de San-Tiago, de que já dice, e Dom Martim Nunes, Mestre da Cavallaria do Templo nos tres Reinos Despanha, e Dom Affonso Garcia, Adiantado mór no Reino de Murcia, os quaes pozeram antre elles taes convenças, com que perderam todo o dezamor, e escandalo, que antre elles havia, e ficou assentado, que El-Rei de Portugal livremente, e para sempre despozesse de todalas terras, e Villas, e couzas do Algarve todo o que quizesse sem embargo de todalas outras promessas e condições que antre elles fossem postas, salvo da ajuda dos cincoenta Cavalleiros de que o não revelou, e com esto os Embaxadores se tornaram, e acharam El-Rei de Castella em Badalhouse, que logo enviou suas provizões ao dito João de Boim, e Pedro Anes seu filho, porque lhe mandou que entregassem a El-Rei Dom Affonso seu genro todalas Villas e Castellos do Algarve, e se elle fosse fallecido, que as entregassem a El-Rei Dom Diniz seu filho, e lhas alevantou com todalas crauzolas, e solenidade, e todo preito, e menagem, que por quaisquer obrigações, e couzas do Algarve tiveram feito a elle, ou a outrem em seu nome, e por Carta asselada feita em Badalhouse Mercoles dezaseis dias andados de Fevereiro da era de mil e duzentos e sessenta e sete annos, e sobscrita por o Secretario Millão Paes, que por mandado del-Rei a fez escrever. CAPITULO XIV _Como El-Rei Dom Affonso de Castella quitou ao Ifante D. Diniz seu neto a obrigação do Algarve, e a soltou a Portugal levemente para sempre_ E porque a este tempo o Ifante D. Diniz herdeiro filho del-Rei de Portugal, posto que fosse moço era já em idade para poder caminhar, El-Rei, e a Rainha seus padres acordaram de o enviar, como enviaram muito honradamente a Castella a visitar El-Rei Dom Affonso seu avô, para lhe ter em mercê a doação, e avenças passadas, e assi para lhe pedir relevamento das mais obrigações, e serviço dos cincoenta Cavalleiros, e assi com mui nobre companhia chegou a Sevilha onde achou El-Rei, que o recebeo, e agazalhou com muitas festas, e honras, e com sinaes de grande amor, a quem o Ifante Dom Diniz passados os comprimentos, e visitações, e bem ensinado da instrução, que levava pedio por mercê a El-Rei seu avô, que daquella obrigação dos cincoenta Cavalleiros, e assi de qualquer outra que tocasse ao Algarve, quizesse para sempre relevar a El-Rei Dom Affonso seu padre, e a elle, e aos que delle decendessem, na qual cousa segundo a Coronica de Castella conta, El-Rei esteve algum pouco suspenso, e com os grandes de seu Reino quiz poer o caso em Conselho, no qual por só Dom Nuno de Lara com rezões que pareciam onestas, e de bem de seus Reinos ouve alguma contradição, mas os outros, que logo conheceram a vontade del-Rei, que era satisfazer em todo a seu neto, todos lhe aprovaram, e louvaram, e sobre este assento andando o Ifante Dom Diniz com El-Rei seu avô foram a Jaem, donde houve por bem que o Ifante se tornasse, como tornou a Portugal, e lhe mandou dar uma carta que trouxe para El-Rei seu padre, escrita em pergaminho em palavras Castelhanas, e asselada de seu selo pendente das Armas de Castella, e de Lião, que tornadas fielmente em Portuguez por mim Coronista, que a propria Carta vi, diziam nesta maneira. «Saibam quantos esta Carta virem, como eu Dom Affonso pola graça de Deos Rei de Castella, e de Toledo, e de Lião, de Galiza, de Sevilha, de Cordova, de Murcia, e de Jaem, quito para sempre a vós Dom Affonso per essa mesma graça Rei de Portugal, e do Algarve, a menagem que fizestes a mim por carta, ou por cartas, e a Dom Luis meu irmão, em meu nome, para fazer a mim comprir os preitos, e posturas, e as convenças, que foram postas antre mim, e vós, e Dom Diniz, e os outros vossos filhos, e vossos herdeiros, por rezão dos cincoenta Cavalleiros, que a mim deviam ser feita em meus dias pelo Algarve, a qual ajuda, e os quaes preitos, e posturas, e menagens em qualquer maneira que fossem feitas assi por Cartas, como sem Cartas, eu quito para sempre a voz, e Dom Diniz, e aos outros vossos filhos, e herdeiros que nunca por esso a mim, nem a outrem por mim, vós nem elles, nem outrem por vós sejaes, nem sejam teudos de nhuma couza por rezão dos Castellos, nem da terra do Algarve, que vos dei, e outorguei, que se alguma Carta, ou Cartas parecer, ou parecerem sobre a menagem, ou menagens, ou sobre preitos, ou posturas, ou avenças, ou sobre o serviço, ou ajuda que a mim devesse ser feito, ou feita pelos Castellos, ou pola terra do Algarve, que desdaqui em diante nunca valham, e sejam quebrados, e de nhuma formidão, e renuncio, e quito todo o direito, e toda demanda, que eu haveria, ou haver poderia por esta Carta, ou por essas Cartas contra vós ou contra Dom Diniz, ou contra os outros vossos filhos, ou vossos herdeiros, ou contra os Cavalleiros que tivessem, ou tiveram os Castellos do Algarve em tal guiza, que nunca a mim essa Carta, ou Cartas possa nem possam preitar, nem a outrem por mim, nem a vós, nem Dom Diniz, nem a vossos filhos, nem a vosssos herdeiros, nem aos sobreditos Cavalleiros empecer, e em testemunho da sobredita couza, dou a vós sobredito Rei de Portugal e do Algarve esta minha Carta aberta asselada de meu selo de chumbo, que tenhais em testemunho, feita a Carta em Jaem por nosso mandado Sabbado sete dias do mez de Maio de mil e duzentos e sessenta e sete annos, e eu Milão Peres a fiz escrever». CAPITULO XV _Da morte do mestre Dom Payo Correa, e das causas que houve para El-Rei D. Affonso de Castella, pai da Rainha de Portugal ser desobedecido, e como foi ajudado de Portugal, que foi fundamento para se acrecentarem a Portugul os Lugares de riba Dodiana_ Com esta Carta, e com grandes davidas que o Ifante D. Diniz recebeo del-Rei Dom Affonso seu avô se tornou a Portugal com que El-Rei seu padre foi muito alegre, e com elle veo o Mestre Dom Payo Correa, que depois de tornado a Castella não soube mais delle, nem o que depois fez, salvo que no fim de seus dias se recolheo á Villa de Ucles, que era Cabeça do Convento do seu Mestrado de San-Tiago em Castella, onde se diz que bem, e catolicamente acabou sua vida já velho a dés dias de Fevereiro de mil e duzentos setenta e cinco annos, (1275) e que mandou que morto o trouxessem a Tavilla, que elle ganhara dos Mouros, de que escondidamente foi ahi trazido, e sepultado na Egreja de Santa Maria antre o Altar mór, e a parede da Egreja. E passados depois alguns annos andando a era de mil duzentos e setenta e um, havendo contenda na jurdição do Imperio de Roma, que vagara por morte de Federico o segundo, que foi mao, e erege Emperador dos Romãos, e grande perseguidor das cousas da Santa Egreja, alguns Eleitores elegeram a Rodufo Conde de Cambra, irmão del-Rei de Inglaterra, e outros elegeram, e chamaram logo para o Imperio este Rei Dom Affonso de Castella, o qual mui poderoso de armas, e gentes, e assi mui abastado de riquezas, depois que leixou em Castella jurado por Rei, e seu sobcessor ao Ifante D. Fernando de Lacerda seu filho primogenito, logo passou em França esperando de ser logo no dito Imperio sem contradição confirmado por o Papa Gregorio decimo, ao tempo em Lião Sola nova de França fez Concilio geral, onde o dito Rei D. Affonso achou já eleito e confirmado o dito Rodufo com quem competia, e agravando-se desso ao Papa, que encontrou na Villa de Belicaudo em França junto com Avinhão, finalmente confortado de Sua Santidade, e rogado, que por se evitar cisma, e guerras antre os Christãos, que renunciasse o direito que no dito Imperio tinha, e elle o fez, e tornou-se em Espanha onde achou falecido de peste o dito Ifante Dom Fernando, seu filho maior, que por assossego da sobceção de Castella, e de Lião sobre que os Reis de França, e de Castella competiram, fora cazado com a Ifante Dona Branca filha del-Rei S. Luis a que pertencia ter direito nos ditos Reinos Despanha por ser filho da Rainha Dona Branca filha del-Rei Dom Affonso o noveno, que venceo a batalha das Navas de Toloza, e desta Ifante Dona Branca o dito Ifante Dom Fernando tinha já havido dous filhos, a saber Dom Affonso, e Dom Fernando de Lacerda, a que muito mais claramente dizem da guedelha, porque este apelido de Lacerda não é de alguma geração, nem memoria passada dos seus progenitores de uma parte, nem da outra, mas sómente lhe foi posto nome aventicio, porque o dito Ifante Dom Fernando, que primeiramente se chamou de Lacerda, quando naceo trouxe do ventre da Rainha Dona Violante Daragão sua madre uma guedelha de cabelos nos peitos a que chamam Lacerda, e este Dom Affonso por contrato do cazamento, e por direito comum pertencia mais a sobcessão de Castella que outro algum. Mas ao tempo que o dito Ifante Dom Fernando faleceo era tambem em Castella o Ifante Dom Sancho seu irmão lidimo, que a auzencia del-Rei Dom Affonso seu padre, e por morte do irmão tomou logo posse da governação, e defenção do Reino, em que trabalhou de ser como singular Principe, porque resistio com batalhas, e grandes forças aos Reis de Grada, e Marrocos, que entraram em Espanha, e não consentio que Dom Affonso de Lacerda seu sobrinho fosse jurado, nem obedecido por sobcessor de Castella, e El-Rei Dom Affonso em chegando de França, procurou logo que o dito Ifante Dom Sancho por todolos Estados do Reino fosse, como foi jurado, e havido por seu sobcessor, sem embargo doutro juramento, que ao dito Ifante Dom Fernando por si, e por seus filhos, e sobcessores era feito, e a Rainha Dona Violante molhar del-Rei Dom Affonso de Castella anojada por se denegar a sobcessão a seus netos, e principalmente a Dom Affonso o primeiro com receo que houve de os matarem em Castella, se foi com elles para El-Rei Dom James deste nome o primeiro, e dos Reis Daragão o decimo, que era padre della, donde enviou pedir a El-Rei Dom Affonso seu marido depois que veo de França, que pois elle por si ganhara dos Mouros o Reino de Murcia, que o désse ao Ifante Dom Affonso seu neto, com que para sua honra, e estado seria satisfeito, e renunciaria por esso todo o direito que tivesse na sobcessão de Castella, no que El-Rei levemente, e com san vontade consentia, mas o Ifante Dom Sancho em todo o contrariou, que com ameaças de morte, que fez não leixou ir ao Papa os Embaxadores que El-Rei seu padre sobre esso lhe mandava, dizendo que como o Ifante Dom Fernando seu irmão falecera, logo o Deos leixara por herdeiro de todolos Reinos, e couzas de que El-Rei seu padre era Rei, e Senhor. E querendo El-Rei por Cortes, e prazer dos povos remedear esta denegação do Ifante seu filho, e para que seu neto houvesse toda via o Reino de Murcia, fez ajuntar os procuradores dos Concelhos do Reino, a que o Ifante Dom Sancho requereo com muitas rezões, que faziam por elle, que por alguma maneira não consentissem no requerimento del-Rei, e assi descontente o Ifante antes de se tomar alguma concruzão, se foi para Cordova, e El-Rei depois de declarar aos povos as muitas cauzas, e razões porque de direito podia dar o Reino de Murcia a Dom Affonso seu neto, os Procuradores para no cabo responderem com madura deliberação, como elle requeria, pediram espaço dalgum tempo, para lhe tornarem reposta, os quaes sem lha darem se foram logo com medo ajuntar com o Ifante Dom Sancho em Cordova, onde sendo delle bem recebidos, concordaram, que por quanto em Valhadolid sobre este cazo se faria ajuntamento dos mais principaes Lugares, e grandes do Reino, elles dahi a certo tempo fossem, como foram ahi juntos, salvo os Concelhos Dandaluzia, que sempre tiveram com El-Rei Dom Affonso, os quaes assi juntos em Valhadolid era hi o Ifante Dom Sancho filho del-Rei, e o Ifante Dom João seu irmão, e o Ifante Dom Manoel seu tio, e Dom Lopo Senhor de Biscaya, e Dom Diogo seu irmão, e depois de muitas praticas, e apontamentos, que antre si fizeram leixaram todos a determinação da sentença ao dito Ifante Dom Manoel, o qual alevantado em pé, pronunciou a sentença, e dice, que por quanto El-Rei Dom Affonso seu irmão matara o Ifante Dom Fadrique tambem seu irmão, e a Dom Simão Rodrigues dos Cameyros seu sogro, e outros nobres do seu Reino sem cauza, que perdesse por esso a justiça, e porque se dezaforaram os Fidalgos, e os Concelhos com dano, e perda delles, que não comprissem suas Cartas, nem lhe pagassem os foros, e porque despertara a terra, e fizera más moedas, que não houvesse do Reino preitas, nem serviços, nem martineguas, nem moedas foreiras, e que dahi em diante o dito Ifante se podesse chamar Rei de Castella, e de Lião. E preguntados os Procuradores, e povos se aprovavam esta sentença, respondeo por todos um Diogo Affonso Alcaide mór de Toledo, que a todos parecia bem a determinação do Ifante Dom Manoel, por as rezões que dicera, e mais por a prodigalidade del-Rei Dom Affonso, que para o resgate do Emperador de Constantinopla dera das rendas de Castella cincoenta quintaes de prata, e mais por dar o Algarve a seu genro El-Rei Dom Affonso de Portugal, e lhe quitar ajuda, e o serviço dos cincoenta Cavalleiros em que era obrigado, e porém que lhe parecia couza honesta, se ao Ifante Dom Sancho assi bem parecesse, que elle em vida del-Rei seu Padre senão chamasse Rei, no que o Ifante consentio; e com esto a obediencia de todos os Lugares logo foi alevantada a El-Rei, salvo a de Sevilha, onde El-Rei se recolheo; e perseguido de muitas necessidades enviando rogar, e encomendar aos Prelados, e pessoas de auctoridade do Reino, que pozessem concordia, e boa paz antre elle, e seu filho, elles segundo alguns dizem o não fizeram, antes o contrariavam. Com esta tamanha necessidade enviou a pedir ajuda a El-Rei Dom Affonso seu genro, que por em tempo de tanta fortuna ser agardecido ás boas obras, e graças que delle tinha recebidas, lhe mandou trezentos Cavalleiros Portuguezes pagos á sua custa por muito tempo, que por honra, e serviço del-Rei o fizeram de maneira em Castella, que sua fama, e bom nome será sempre lembrada, e as Coronicas Despanha, que eu vi dão desso craro testemunho, e destes trezentos Cavalleiros de Portugal, que vieram, e andaram em serviço del-Rei Dom Affonso, creo que se tomou a opinião errada, que em alguns livros vi, em que tem, que a obrigação de que este Rei Dom Affonso relevou a El-Rei de Portugal seu genro, e a El-Rei Dom Diniz seu neto, era de trezentos Cavalleiros com que era obrigado de o ajudar, e servir quando lhe comprisse, a tal sentença, e opinião são errados, porque a obrigação, que El-Rei Dom Affonso, e Ifante Dom Diniz seu filho tomaram por a sobcessão do Algarve, do que foram relevados, era sómente de cincoenta Cavalleiros, que em vida del-Rei Dom Affonso de Castella, contra todolos Reis Despanha lhe haviam de dar, e a verdade desto eu Coronista verdadeiramente a vi nas proprias doações, quitações, e privilegios assellados, e auctorizados, que sobresso se concederam, os quais estão no Castello de Lisboa, na Torre do Tombo de Portugal, de que eu sou Guarda mór, e outros semelhantes deve haver nos Cartorios de Castella. E porém a guerra, e desavença antre El-Rei Dom Affonso de Castella, e o Ifante Dom Sancho seu filho durou muitos annos, nem cessou, salvo por morte del-Rei, em cuja vida padeceo muitas necessidades, e foi sempre perseguido de mui contrairas fortunas, por as quaes meteo por sua ajuda em Espanha Abençaf Rei de Marrocos, e seus filhos a que se diz, que antes de entrarem empenhou sua Coroa por sessenta mil dobras, o qual com grandes gentes, e poder de Mouros correo a terra dos Christãos, e sem aproveitarem ao dito Rei de Castella fazendo primeiro nellas muitos danos, e estragos se volveo em Africa, como na Coronica de Castella esto milhor, e com mais particularidade se declara. CAPITULO XVI _Do falecimento del-Rei D. Affonso de Portugal, como antes de seu falecimento deu Caza ao Ifante Dom Diniz seu filho herdeiro_ A este tempo chegada a era de mil duzentos setenta e oito, (1278) El-Rei Dom Affonso de Portugal sendo já velho de setenta annos, e perseguido de dores, e paixões de velhice, por descançar em alguma parte dos trabalhos, e cuidados do Reino, ao Ifante Dom Diniz seu filho, que era de dezoito annos, e não era cazado, deu-lhe Caza em Lisboa a dezaseis dias de Junho do anno sobre dito, e de seu assentamento alem doutras couzas, lhe ordenou logo mais em dinheiros quarenta mil livras de moeda antiga, que valiam a respeito dos preços, e valor do ouro, e da prata dagora dezaseis mil cruzados, porque naquella tempo, segundo é bem verificado, uma livra valia vinte soldos, e duas livras e meia faziam cincoenta soldos, que valiam um maravedi douro, que no preço, e pezo eram os maravedis douro como agora são os cruzados, e ducados. E do dia que El-Rei deu assi Caza ao Ifante seu filho, e a nove mezes primeiros seguintes, tendo já feito em mui inteiro acordo seu solene Testamento, arrependido de seus peccados recebendo como bom Catholico, e fiel Christão todolos Sacramentos para bem de sua alma, em Lisboa a vinte dias de Março de mil e duzentos setenta e nove, (1279) acabou sua vida, e deu sua alma a Deos, em idade de setenta annos, dos quais Reino trinta e dous, e foi logo soterrado no Moesteiro de São Domingos de Lisboa, que elle novamente fez, e depois na era de mil e duzentos e oitenta e nove, foi tresladado seu corpo ao Moesteiro Dalcobaça, pela Rainha Dona Breatiz sua molher, que ficou viva, e se mandou depois enterrar com elle no dito Moesteiro Dalcobaça, onde ambos jazem. Este Rei Dom Affonso fez de novo o dito Moesteiro de S. Domingos de Lisboa, o qual começou aos tres annos primeiros depois que foi Rei, e o acabou em déz annos, e assi fez o Moesteiro de Santa Clara de Santarem, e povorou, e fez a Villa Destremoz, e reformou, e povorou a Villa de Beja, que dos tempos dos Mouros era de todo destroida, mas não fez a torre grande do Castello, por que esta fez seu filho, El-Rei Dom Diniz, e assi deu bons foraes a muitos Lugares do seu Reino, e em umas grandes fomes, que nelle houve em seu tempo, se acha que uzou de grande piedade com seus vassalos, a que proveo com devidos mantimentos, trazidos de muitas partes de fóra do Reino á custa de suas rendas, e a penhor das ricas joias de seu tesouro, e foi o primeiro que se intitulou Rei de Portugal, e do Algarve, e que primeiro por esta cauza poz a bordadura dos Castellos, como atraz é já dito. DEO GRATIAS INDEX DAS COUSAS NOTAVEIS *A* Abenafaam Rei mouro é vencido na batalha de Silves onde morreo afogado em um rio pag. 40 a 42 Affonso III (D.) Onde, e quando foi levantado Rei de Portugal, pag. 16. Foi casado segunda vez com Dona Breatiz sua sobrinha, filha natural del-Rei D. Affonso X de Castella, pag. 17. Foi o primeiro que se intitulou Rei de Portugal e dos Algarves, e pôz no Escudo além das Quinas os Castellos, pag. 17. Foi muito amante da Justiça, e grande reedificador, pag. 18. Sendo casado com Dona Matildes, Condessa de Bolonha a deixou, e vindo a Portugal se recebeu com sua sobrinha Dona Breatiz, pag. 19. Não admitte a Embaixada dos Cavalleiros que vieram a Portugal com a Condessa Dona Matilde para que a recebesse em sua companhia, antes partem injuriados da sua presença, pag. 21. Estranha-lhe o Papa este procedimento, e lhe manda intimar censuras pelo Arcebispo de S. Tiago, e não cede da sua pertinacia pag. 23. Dos filhos que teve de Dona Breatriz, pag. 24. Amou muito a sua filha a Infanta Dona Branca a quem deu a Villa de Monte-mór-o-velho, e em testamento lhe deixou mais de dés mil livras, pag. 25. Das diversas terras que juntou á Corôa com o casamento de Dona Breatiz, pag. 26. Como alcançou o Reino do Algarve, e se intitulou Rei delle, pag. 45. Conquista gloriosamente a Villa de Faro, pag.^s 46 a 50. E' exhortado pelo Papa para conquistar a Terra Santa, pag. 53. Manda trezentos Cavalleiros em soccorro de seu sogro, que lho pedira por estar dessapossado do Reino, pag. 63. Em que dia e anno morreo, pag. 65. Onde foi enterrado, e para que parte foi tresladado o seu corpo, pag. 66. Edificios que fez, ibi. Affonso X (D.) De Castella, teve de Dona Mayor Guilhelme de Gusmão sua manceba e Dona Breatiz que cazou com D. Affonso III de Portugal, pag. 19. Amou excessivamente a esta filha e lhe deu um grande dote quando se recebeo com aquelle Principe, ibi. Deixou a sua neta a Infanta Dona Branca, grande copia de dinheiro, pag. 26. Sucedeu nos reinos de Castella, e de Lião a seu Pae D. Fernando, pag. 28. Doa a El-Rei D. Affonso III o Reino do Algarve, e com que condições, pag. 45. Concede á petição de seu neto o Infante D. Diniz a izenção dos cincoenta Cavalleiros com que doara a seu pae o Reino do Algarve, pag. 56 e 57. Sendo eleito Emperador dos Romanos, parte a França para ser confirmado pelo Papa, e acha já de posse do Imperio a Rodulpho, e volta para Castella, pag.^s 59 e 60. Por ter morto seu irmão o Infante D. Fadrique, e a seu sogro D. Simão Rodrigues Cameiros é dessapossado do Reino por sentença de seu irmão o Infante D. Manuel, pag. 62. Pede soccorro a seu genro D. Affonso III para rebater esta violencia, e lho manda, pag. 63. Affonso (Infante D.) Filho de Affonso III de Portugal, e Dona Breatiz, casou com Dona Violante filha do Infante D. Manuel de Castella, e da Infanta Dona Constancia de Aragão, pag. 25. Affonso Garcia (D.) Adiantado-mór do Reino de Murcia, é mandado por Embaixador de Castella a pacificar ao seu Principe com D. Affonso III, pag. 55. Albofeira. E' conquistada esta Villa por D. Lourenço Affonso Mestre de Aviz, pag. 52. Algarve. Como foi conquistado por D. Payo Corrêa, e das gloriosas vitorias que alcançou dos Mouros, pag.^s 29 a 32. Com que condições foi doado por El-Rei de Castella a El-Rei D. Affonso III de Portugal, pag. 45. Que terras comprehendia quando era possuido dos Mouros, e quaes sejam as que tem depois que o dominaram os Portuguezes, pag. 52. Aljustrel. Foi conquistado por D. Payo Corrêa, e depois de ser entregue a D. Sancho II de Portugal, o deu este Principe á Ordem de San-Thiago, pag. 28 e 29. Aljuzur. Foi conquistado por D. Payo Corrêa, pag. 52. Alvaro Garcia. Cavalleiro de San-Thiago, é morto pelos Mouros em Tavira, e honorificamente sepultado, pag. 39. Alvor. E' couquistado por D. Payo Corrêa, pag. 40. Arcebispo de San-Thiago. E' mandado pelo Papa que admoestasse a D. Affonso III que largasse a Dona Breatiz por estar viva sua primeira mulher a Condessa Dona Matilde, e que repugnando o emprazasse para que em quatro mezes apparecesse pessoalmente na sua prezença, pag. 23. *B* Beja. Foi reformada, e povoada por D. Affonso III, pag. 60. Beltram de Caya, cavalleiro alentado é morto pelos Mouros em Tavira, e como foi honorificamente sepultado, pag. 39. Branca (Rainha Dona) filha del-Rei D. Affonso Noveno que venceo a batalha das Navas de Toloza, foi mãe de S. Luis Rei de França, pag. 60. Branca (Infanta Dona) filha de Affonso III de Portugal, e da Rainha Dona Breatiz se recolheo no Mosteiro de Lorvão, e foi Senhora das Olgas de Burgos onde sem cazar faleceo, pag. 25. Possuio grandes terras em Castella, como em Portugal, ibi. Branca (Infanta Dona) filha de S. Luis Rei de França, foi mulher do Infante D. Fernando de Lacerda, filho primogenito de D. Affonso X de Castella de quem teve dous filhos, pag. 60. Breatiz (Rainha Dona) filha natural de D. Affonso X de Castella, foi casada com seu tio D. Affonso III de Portugal, pag. 17 e 18. Mandou tresladar o corpo de seu marido para o Convento de Alcobaça, onde foi enterrada, pag. 66. *C* Campo Maior. Foi dada esta Villa por El-Rei D. Diniz a sua irmã a Infanta Dona Branca, pag. 24. Castellos. Os que se vêm no Escudo das Armas de Portugal, foram postos por D. Affonso III, quando lhe foi dado em dote o Algarve, e não por serem do Condado de Bolonha, pag. 17. Constança (Infanta Dona). Filha de D. Affonso III e Dona Breatiz, foi com sua mãi a Sevilha a ver seu pai, que assistia naquella Cidade, onde faleceo, e foi conduzida ao Convento de Alcobaça, e nelle está sepultada, pag. 26. Cordova. Quando foi esta cidade ganhada por El-Rei D. Fernando de Castella, pag. 26. *D* Infante D. Diniz. Foi filho primogenito de D. Affonso III de Portugal, e D. Breatiz, que depois sucedeo no Reino a seu pai, pag. 24. Onde e quando naceo, ibi. Edificou o Mosteiro de Odivelas onde está sepultado, ibi. Sendo Rei deu a sua irmã a Infanta Dona Branca a Villa de Campo Maior, pag. 24. Parte a Castella para pedir a seu avô D. Affonso X, exima ao Reino de Portugal da obrigação dos cincoenta Cavalleiros com que lhe doara o Algarve, e depois de algumas contradições o alcança, pag. 56. Em que dia e anno lhe fez casa seu pai, pag. 56. Edificou a Torre do Castello de Beja, ibi. Diogo Affonso. Alcaide-mòr de Toledo aprova em nome de todos os Procuradores que estavam juntos em Valhadolid a determinação do Infante D. Manoel com a qual dessapossou do Reino de Castella a seu irmão D. Affonso X, pag. 62. Duram Vaz. Cavalleiro insigne é morto pelos Mouros em Tavira, e como foi enterrado, pag. 39. *E* Estevão Vaz, Cavalleiro famoso morre em Tavira, e como foi honorificamente sepultado, pag. 39. Estremoz. Foi edificada esta Villa e povoada por D. Affonso III, pag. 66. *F* Fadrique (Infante D.) Foi morto por seu irmão D. Affonso X de Castella, e por este motivo foi dessapossado do Reino por determinação de seu irmão o Infante D. Manoel, pag. 62. Faro. Como, e quando foi conquistada esta Villa por D. Affonso III, pag. 47 a 50. Fernão Lopes (D.) Prior do Esprital assistio com D. Affonso III na conquista de Faro, pag. 48. Fernando (El-Rei D.) De Castella, quando tomou Cordova? pag. 27. Em que anno conquistou a cidade de Sevilha, pag. 28. Quando morreo. ibi. Fernando (D.) Filho natural del-Rei D. Affonso III, foi Cavalleiro da Ordem do Templo, e aonde está sepultado? pag. 26. Fernando de Lacerda (Infante D.) Filho primogenito de D. Affonso X de Castella, é jurado por sucessor da Coroa quando seu pai passou a França a coroar-se por Emperador dos Romanos, pag. 59. Foi cazado com Dona Branca filha de S. Luis Rei de França, ibi. Morreo de peste, pag. 60. Teve dous filhos, e como se chamaram, ibi. Porque tomou o appelido de _Lacerda_, ibi. *G* Gregorio X roga a D. Affonso X de Castella que por evitar algum scisma se recolha ao seu Reino, quando vinha a coroar-se Emperador dos Romanos por já estar de posse desta dignidade Rodulpho Conde de Cambra, irmão del-Rei de Inglaterra, pag. 60. Garcia Lopes (D.) Sendo privado de Mestre da Ordem de Calatrava lhe sucedeo João Nunes do Prado, pag. 24. Garcia Rodrigues. Deu os meios a D. Payo Correa para haver de conquistar o Algarve, pag. 30. Morre alentadamente em Tavira com mais seis companheiros acometidos por um grande numero de Mouros, pag. 37 e 38. *J* João de Avinhão (D.) Chançarel assistio com D. Affonso III na conquista de Faro, pag. 48. João de Boim. Assistio no lanço de um muro na tomada da Villa de Faro, que ao depois tomou o seu nome o lugar que tinha ocupado, pag. 48. Tomou entrega de todos os lugares do Algarve conquistados por ordem del-Rei de Castella para em seu nome os entregar a seu genro D. Affonso III, e quando se celebrou este ajuste, pag. 54. João Nunes do Prado, Cavalleiro da Ordem de Calatrava de que foi Mestre, foi reputado filho da Infanta D. Branca filha del-Rei Affonso III de Portugal, e de um Cavalleiro chamado o Carpiteiro, pag. 25. *L* Livra. Que valor tinha uma e duas e meia, pag. 65 Quarenta mil assinou para renda do Infante D. Diniz seu pai D. Affonso III, ibi. Loulé é conquistado por D. Affonso III pag. 50 Lourenço Affonso (D.) Mestre de Aviz assiste com El-Rei D. Affonso III na conquista de Faro, pag. 48. Conquistou a Villa de Albufeira, pag. 52. Luis (São) Primo com irmão del-Rei D. Affonso III de Portugal foi o ultimo Rei de França que passou á conquista da Terra Santa, e que successo teve nesta empreza, pag. 53. Luis (Infante D.) é mandado por seu irmão D. Affonso X de Castella a Portugal a firmar as condições com que doara a seu genro D. Affonso III o Reino do Algarve, pag. 54. Quem foram os pais deste Infante, ibi. *M* Manoel (Infante D.) irmão de D. Affonso X de Castella pronuncia em Valhadolid sentença em presença de muitos Procuradores de Cidades contra este Principe, para que não lhe obedeçam os povos, se intitule Rei seu sobrinho D. Sancho, pag. 62. Martim Nunes (D.) Mestre da Cavallaria do Templo, veio por Embaxador de Castella a concordar o seu Principe com El-Rei D. Affonso III, pag. 55. Matilde, (Dona) Condessa de Bolonha sabendo que era morto D. Sancho II parte de França em uma Armada, e chegando a Cascaes não é admitiida por seu marido D. Affonso III por estar cazado com Dona Breatiz pag. 21. Volta para França, e se queixa ao Papa do procedimento de D. Affonso III o qual sendo advertido pela Pontifice a que largasse a Dona Breatiz, e não obedecendo se poz interdito em todo o Reino, pag. 23. Onde, e quando morreo esta Condessa, ibi. Mayor Guilhelme de Gusmão (Dona) foi manceba de D. Affonso X de Castella, de quem teve Dona Breatiz, que cazou com D. Affonso III de Portugal, pag. 19. Mem do Valle é morto pelos Mouros em Tavira, e de como foi honorificamente sepultado, pag. 39. Mertola. Foi conquistada por D. Payo Correa, e depois foi dada por D. Sancho II á Ordem de San-Tiago, pag. 28. Monte mór o Velho. Esta Villa foi doada por El-Rei D. Affonso III a sua filha a Infanta Dona Branca, pag. 25. Mosteiro. O de São Domingos de Lisboa, e de Santa Clara de Santarem, foram fundados por El-Rei D. Affonso III, pag. 66. *N* Nuno de Lara (D.) Oppõem-se com fortes razões a El-Rei D. Affonso de Castella, para que não conceda a seu netto o Infante D. Diniz a izenção dos cincoenta Cavalleiros com que lhe doava o Reino do Algarve, pag. 56. *O* Odivellas. Mosteiro de Religiosas Bernardas foi fundado pelo Infante D. Diniz onde está sepultado, pag. 25. *P* Paderne. E' conquistada esta Villa por D. Payo Correa, pag. 43. Papa. Admoesta a D. Affonso III que largue Dona Breatiz por estar viva sua primeira mulher, e não obedecendo interditou o Reino todo, pag. 22 e 23. Por morte de Dona Matilde levanta o interdito, e dispensa em que os filhos que tivera D. Affonso III de Dona Breatiz vivendo Dona Matilde pudessem suceder no Reino, pag. 24. Pede por Fr. Payo Ministro dos Freyres de San-Tiago a El-Rei D. Affonso III que conquiste a Terra Santa, pag. 53. Payo, (Fr.) Ministro da ministração dos Freires de San-Tiago, é mandado pelo Papa para que exhorte a El-Rei D. Affonso III a conquistar a Terra Santa, pag. 53. Payo Correa, (D). Mestre da Ordem de San-Tiago assistio á Conquista de Cordova, e Sevilha com El-Rei D. Fernando de Castella, pag. 27 e 28. Conquistou as Villas de Aljustrel, e Mertola, pag. 28. Como conquistou o Algarve, e das vitorias que para este fim alcançou dos Mouros, pag. 29 a 32. Toma Tavira com grande mortandade dos Mouros, pag. 39. Conquista Selir, e Alvor, pag. 40. Alcança uma famosa vitoria de Abenafaam em Silves, e conquista esta Cidade, pag. 40 e 41. Toma Paderne, pag. 43. Foi o principal instrumento para que El-Rei D. Affonso III tomasse as Villas de Faro, e Loulé, pag. 46 a 49. Veio por Embaxador del-Rei de Castella a concordar este Principe com D. Affonso III, pag. 55. Onde, e quando morreo, pag. 59. Onde está sepultado, ibi. Pedro Estaço. Defende um lanço do muro na tomada de Faro, pag. 47. Pedro Rodrigues, Commendador mór, é morto pelos Mouros em Tavira, e como foi enterrado, pag. 39. Portugal. Esteve interdito alguns annos pelo Pontifice, por não querer D. Affonso III deixar a Dona Breatiz sendo viva a sua primeira mulher Dona Matilde, pag. 23. *R* Rodulpho. Conde de Cambra irmão del-Rei de Inglaterra, é eleito por Emperador dos Romanos por alguns Eleitores, pag. 59. *S* Sancho II de Portugal deu á Ordem de San-Tiago as Villas de Aljustrel, e Mertola, pag. 29. Sancho (Infante D.) Filho legitimo de D. Affonso X de Castella toma posse do governo por morte de seu irmão D. Fernando de Lacerda, pag. 60. Foi valeroso Principe, ibi. E' jurado por sucessor do Reino, pag. 61. Convoca os Concelhos em Valhadolid para que não consintam que seu pai dê o Reino de Murcia a seu neto D. Affonso, e o consegue, pag. 62. Selir. E' conquistado por D. Payo Correa, pag, 40. Sevilha. Em que dia, e anno foi conquistada por El-Rei D. Fernando de Castella, pag. 28. Nesta Cidade morreo este Principe, e quando, ibi. Simão Rodrigues dos Cameiros, Sogro del-Rei de Castella D. Affonso X é morto por este Principe, cauza porque o desapossaram do Reino, pag. 62. Silves. Cidade no Algarve é conquistada por D. Payo Correa do poder dos Mouros, e como ficaram tributarios a Portugal, pag. 42. *T* Tavira. Em que dia, e anno foi tomada por Payo Correa com grande mortandade dos Mouros, pag. 39. Na Igreja de Santa Maria desta Villa está sepultado D. Payo Correa, pag. 59. *U* Ucles. E' cabeça do Convento do Mestrado de San-Tiago em Castella, pag. 59. Neste lugar morreo D. Payo Correa, ibi. *V* Violante (Rainha Dona), mulher de D. Affonso X de Castella receosa de que matassem a seus netos, partio com elles para Aragão a amparar-se de seu pae El-Rei D. Jayme, pag. 6l. Pede a seu marido que dê a seu neto D. Affonso o Reino de Murcia, o que não alcançou, pag. 6l. Violante (Dona), filha do Infante D. Manoel de Castella, e da Infanta Dona Constança de Aragão, cazada com D. Affonso, filho de D. Affonso III de Portugal, e da Rainha Dona Breatiz, pag. 25. FIM INDICE DOS CAPITULOS I--Como se intitulou Rei de Portugal, e do Algarve, e como acrecentou os Castellos no Escudo das Armas Reaes, e a causa porque 16 II--Como El-Rei D. Affonso sendo casado com a Condessa de Bolonha em França a leixou, e casou com a filha del-Rei de Castella 19 III--Como a Condessa de Bolonha veio a Portugal, e como El-Rei seu marido a não quiz ver, e ella se tornou, e do que sobre esso fez 20 IV--Como depois da morte da Condessa de Bolonha foi despensado com El-Rei Dom Affonso que cazasse com a Rainha D. Breatiz, e dos filhes que della houvesse 24 V--Das terras e Lugares que se acrescentaram a Portugal por este casamento 26 VI--Que fundamento houve para o Mestre Dom Payo Correa começar de conquistar o Algarve, que era dos Mouros 29 VII--Do accordo que os Mouros fizeram contra o Mestre, e como houveram com elle batalha em que foram vencidos 33 VIII--Como houve treguas antre os Christãos, e Mouros, e com que fundamento cada uns o outrogaram, e como foi a morte dos sete Cavalleiros Martyres, e o Mestre tomou Tavilla 35 IX--Como o Mestre tomou Selir, e Alvor, e a Cidade de Silves, porque partidos a leixou aos Mouros 40 X--Como o Mestre tornou a cercar Paderne, e o tomou, e do fundamento que houve para El-Rei D. Affonso de Portugal haver para si o Reino do Algarve, e se intitular delle, e com que obrigação lhe foi dado 43 XI--Como El-Rei Dom Affonso de Portugal depois de lhe ser dado o Algarve, tomou aos Mouros a Villa de Farão, em que foi em sua ajuda o mestre D. Payo Correa 46 XII--Como El-Rei D. Affonso cercou, e tomou Loulé, e como a Aljasur tomou o Mestre de San-Tiago, e o Mestre Daviz Albufeira, e da declaração que se fez deste nome Algarve, e dos Lugares que agora nelle cabem 51 XIII--Como o Reino do Algarve por divizões que houve foi posto em terçaria de Cavalleiros Portuguezes, e o que sobre esso se fez 54 XIV--Como El-Rei Dom Affonso de Castella quitou ao Ifante D. Diniz seu neto a obrigação do Algarve, e a soltou a Portugal levemente para sempre 56 XV--Da morte do mestre Dom Payo Correa, e das causas que houve para El-Rei D. Affonso de Castella, pai da Rainha de Portugal ser desobedecido, e como foi ajudado de Portugal, que foi fundamento para se acrecentarem a Portugal os Lugares de riba Dodiana 58 XVI--Do falecimento del-Rei Dom Affonso de Portugal, como antes de seu falecimento deu Caza ao Ifante Dom Diniz seu filho herdeiro 65 End of Project Gutenberg's Chronica d'El-Rei D. Affonso III, by Ruy de Pina *** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK CHRONICA D'EL-REI D. AFFONSO III *** ***** This file should be named 15674-8.txt or 15674-8.zip ***** This and all associated files of various formats will be found in: https://www.gutenberg.org/1/5/6/7/15674/ Produced by Rita Farinha and the Online Distributed Proofreading Team. This eBook is based on images generously provided by the Biblioteca Nacional Digital (http://bnd.bn.pt). Updated editions will replace the previous one--the old editions will be renamed. Creating the works from public domain print editions means that no one owns a United States copyright in these works, so the Foundation (and you!) can copy and distribute it in the United States without permission and without paying copyright royalties. Special rules, set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you do not charge anything for copies of this eBook, complying with the rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose such as creation of derivative works, reports, performances and research. They may be modified and printed and given away--you may do practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is subject to the trademark license, especially commercial redistribution. *** START: FULL LICENSE *** THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free distribution of electronic works, by using or distributing this work (or any other work associated in any way with the phrase "Project Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project Gutenberg-tm License (available with this file or online at https://gutenberg.org/license). Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm electronic works 1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to and accept all the terms of this license and intellectual property (trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession. If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8. 1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be used on or associated in any way with an electronic work by people who agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works even without complying with the full terms of this agreement. See paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic works. See paragraph 1.E below. 1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation" or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the collection are in the public domain in the United States. If an individual work is in the public domain in the United States and you are located in the United States, we do not claim a right to prevent you from copying, distributing, performing, displaying or creating derivative works based on the work as long as all references to Project Gutenberg are removed. Of course, we hope that you will support the Project Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with the work. You can easily comply with the terms of this agreement by keeping this work in the same format with its attached full Project Gutenberg-tm License when you share it without charge with others. 1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern what you can do with this work. Copyright laws in most countries are in a constant state of change. If you are outside the United States, check the laws of your country in addition to the terms of this agreement before downloading, copying, displaying, performing, distributing or creating derivative works based on this work or any other Project Gutenberg-tm work. The Foundation makes no representations concerning the copyright status of any work in any country outside the United States. 1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg: 1.E.1. The following sentence, with active links to, or other immediate access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed, copied or distributed: This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online at www.gutenberg.org 1.E.2. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived from the public domain (does not contain a notice indicating that it is posted with permission of the copyright holder), the work can be copied and distributed to anyone in the United States without paying any fees or charges. If you are redistributing or providing access to a work with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or 1.E.9. 1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted with the permission of the copyright holder, your use and distribution must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the permission of the copyright holder found at the beginning of this work. 1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm License terms from this work, or any files containing a part of this work or any other work associated with Project Gutenberg-tm. 1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this electronic work, or any part of this electronic work, without prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with active links or immediate access to the full terms of the Project Gutenberg-tm License. 1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary, compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any word processing or hypertext form. However, if you provide access to or distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than "Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org), you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm License as specified in paragraph 1.E.1. 1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying, performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9. 1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided that - You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method you already use to calculate your applicable taxes. The fee is owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he has agreed to donate royalties under this paragraph to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments must be paid within 60 days following each date on which you prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax returns. Royalty payments should be clearly marked as such and sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the address specified in Section 4, "Information about donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation." - You provide a full refund of any money paid by a user who notifies you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm License. You must require such a user to return or destroy all copies of the works possessed in a physical medium and discontinue all use of and all access to other copies of Project Gutenberg-tm works. - You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the electronic work is discovered and reported to you within 90 days of receipt of the work. - You comply with all other terms of this agreement for free distribution of Project Gutenberg-tm works. 1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm electronic work or group of works on different terms than are set forth in this agreement, you must obtain permission in writing from both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the Foundation as set forth in Section 3 below. 1.F. 1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread public domain works in creating the Project Gutenberg-tm collection. Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic works, and the medium on which they may be stored, may contain "Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by your equipment. 1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all liability to you for damages, costs and expenses, including legal fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE PROVIDED IN PARAGRAPH F3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH DAMAGE. 1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a written explanation to the person you received the work from. If you received the work on a physical medium, you must return the medium with your written explanation. The person or entity that provided you with the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a refund. If you received the work electronically, the person or entity providing it to you may choose to give you a second opportunity to receive the work electronically in lieu of a refund. If the second copy is also defective, you may demand a refund in writing without further opportunities to fix the problem. 1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE. 1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages. If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any provision of this agreement shall not void the remaining provisions. 1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance with this agreement, and any volunteers associated with the production, promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works, harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees, that arise directly or indirectly from any of the following which you do or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause. Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of electronic works in formats readable by the widest variety of computers including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from people in all walks of life. Volunteers and financial support to provide volunteers with the assistance they need, is critical to reaching Project Gutenberg-tm's goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will remain freely available for generations to come. In 2001, the Project Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 and the Foundation web page at https://www.pglaf.org. Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit 501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent permitted by U.S. federal laws and your state's laws. The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S. Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered throughout numerous locations. Its business office is located at 809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact information can be found at the Foundation's web site and official page at https://pglaf.org For additional contact information: Dr. Gregory B. Newby Chief Executive and Director gbnewby@pglaf.org Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide spread public support and donations to carry out its mission of increasing the number of public domain and licensed works that can be freely distributed in machine readable form accessible by the widest array of equipment including outdated equipment. Many small donations ($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt status with the IRS. The Foundation is committed to complying with the laws regulating charities and charitable donations in all 50 states of the United States. Compliance requirements are not uniform and it takes a considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up with these requirements. We do not solicit donations in locations where we have not received written confirmation of compliance. To SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any particular state visit https://pglaf.org While we cannot and do not solicit contributions from states where we have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition against accepting unsolicited donations from donors in such states who approach us with offers to donate. International donations are gratefully accepted, but we cannot make any statements concerning tax treatment of donations received from outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff. Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation methods and addresses. Donations are accepted in a number of other ways including including checks, online payments and credit card donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic works. Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm concept of a library of electronic works that could be freely shared with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support. Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S. unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily keep eBooks in compliance with any particular paper edition. Most people start at our Web site which has the main PG search facility: https://www.gutenberg.org This Web site includes information about Project Gutenberg-tm, including how to make donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.